La vida es más fuerte...




En estos últimos días han nacido cerca de mí tres niños, confirmando el título de la entrada. Mientras otros se van, estas criaturas llegan para darnos la certeza de continuidad y traernos -desde ese Òrun preexistencial- un soplo renovado de esperanza.
Lautaro -hijo de Oyáwanjó y Omibangbàiyé, amigos e hijos de fe- nació en la ciudad de La Plata para traer a sus padres y hermana el mensaje de amor de Olódùmàre.
En Irlanda nació Alba, de Ifágbimo, amigo e hijo espiritual y Clara, que vino con una semana de diferencia de su primo espiritual, a compartir con sus hermanitos ese hogar lleno de luz y trabajo.
Y hoy, en Israel, nació Danit -hija de Ely Kogos de Òsànlá, hermana de fe y amiga afectuosa con quien, sin conocernos, compartimos creencias, sueños y fundamentos- como prenda de paz y prosperidad para su familia.

En estos tiempos en los que las parejas deciden controlar los nacimientos priorizando sus propias necesidades materiales, resulta estimulante que nuestros hijos y amiga hayan traído al mundo un nuevo vástago para su casa. Sin duda, el Creador que les otorgó una cabeza trascendente para el cuerpo material que sus padres fabricaran con amor atenderá también los medios para dotar a estos tres niños no sólo del amor que les es legítimo porque deseados, sino también los materiales para ser educados, vestidos y nutridos dignamente.

A ellos pues, las bendiciones de mi padre Sòngó y sobre todo las de mi madre Òsun, señora de los nacimientos que son acompañados de riqueza. Que las hadas madrinas de estos chiquitos les doten con todo lo mejor y sean un hombre y dos mujeres de provecho. Sanos, honestos, inteligentes. Y más que eso: mensajeros de la luz.

Oba Aré

Miguel Sant’anna

Empresário e líder religioso. Miguel Arcanjo Barradas Santiago de Sant’Anna foi uma das figuras mais representativas da comunidade afro-baiana. Nasceu em 29 de setembro de 1898. Com a idade de oito anos ficou órfão e foi morar com a tia. Ele foi criado em meio das solidariedades familiais e do parentesco. Parentesco consanguíneo e parentesco ritual, compadrio, mães e pais-de-santo a imprimir a identidade dos grupos emergentes na sociedade de seu tempo, marcando e definindo o caminho do moço na tradição de sua gente. Ainda adolescente, recebeu o posto de Zabá no terreiro da nação Tapa no Gunocô (hoje vale do Bonocô). Era o posto mais alto nesta nação. Nas noites de São João os nagôs Tapa praticavam uma cerimônia nos bamburrais do Gunokô em homenagem a Indakó (Orixá da Nação Tapa). Foi o único brasileiro descendente de africanos a receber este posto.

Pertencendo a uma antiga família-de-santo e tendo sido, desde jovem, ogã confirmado de Omolu no Engenho Velho, seria, mais tarde, um dos primeiros Obás de Xangô - com o nome de Obá Aré, na Sociedade Cruz Santa do Axé Opô Afonjá, o terreiro de São Gonçalo do Retiro. Fez muitos benefícios aos terreiros. Muitas pessoas que não tinham recursos, fizeram obrigação de orixá com a ajuda financeira dele, não importando em que terreiro fosse. Seja no Opô Afonjá, Casa Branca, em Cachoeira terreiro de Gêge de Abalia Debessein, em Muritiba no terreiro de Nezinho, no Gantois, entre outros. A importância de Miguel Sant’Anna no Opô Afonjá, pode ser avaliada pelo cargo que lhe foi atribuído pela Ialorixá Aninha em suas determinações finais, como relata seu neto-de santo, o assobá Didi: “Obá Aré, Obá Abiodun fica como presidente da Sociedade, e você eu quero que fique ao lado da Ossi Dagan, lessé orixá (nos pés do santo)”. Em vida, criou e casou muita gente, parentes e aderentes, sua casa só vivia cheia.

“Encontro no peji de Xangô, o velho Miguel Santana, o mais velho, o mais antigo dos obás da Bahia, o derradeiro dos obás consagrados por mãe Aninha, vestido no maior apuro como se fosse para uma festa de casamento. Assim se veste sempre, mantendo aos 85 anos contagiosa alegria de jovem. Quem não o viu dançar e cantar numa festa de candomblé não sabe o que perdeu. Quantos filhos você semeou no mundo, Miguel? O sorriso modesto, a voz tranquila: 51, meu amigo, entre homens e mulheres, um deles nasceu de uma sueca, outro de uma índia. Descemos juntos a Ladeira do Cabula, a voz de Miguel Santana Obá Aré recorda distantes acontecimentos. Sabe mais sobre a Bahia do que os doutores, os eruditos do Instituto, os historiadores e os membros da Academia. Sabe por ter vivido. Foi rico e é pobre, teve mando de barcos, hoje possui apenas o respeito do povo - a bênção, Obá Aré! Deus lhe salve, seu Miguel Santana”, escreveu Jorge Amado no livro Bahia de Todos os Santos.

No seu processo de ascensão econômica, Miguel Sant’Anna chegou a ser considerado um homem rico, pelos padrões da Bahia nos anos 30. Pierre Verger o colocou em seu livro, Retratos da Bahia, como negro ilustre naquela época. Enfrentou, nos últimos anos de sua vida, dificuldades financeiras decorrentes das mudanças no sistema produtivo do Estado, em que ele desempenhava um papel considerável com sua empresa de intermediação do serviço de estiva no porto de Salvador. Por muitos anos, Miguel Sant’Anna manteve seu escritório de contratação de estivadores, dando continuidade ao trabalho de seu tio Adão da Conceição Costa, até à crise daquelas empresas motivada pela nova legislação, as lutas sindicais e o decréscimo da navegação de cabotagem e internacional. Ele enfrentou com resignação. Até o seu fim, doente e combalido, mostrava-se um homem corajoso e forte, patriarca e generoso e atento à sua extensa família. Para se contar a história do Centro Histórico e do candomblé na Bahia, necessariamente, é obrigatório citar o nome desse empresário e líder religioso, descendente de africanos. Miguel Sant’Anna vivenciou intensamente o cotidiano da área central de Salvador - especificamente o Centro Histórico e Cais do Porto -, da comunidade de origem afro, da qual descendia. Sua experiência de vida é marcante e sua memória está diretamente ligada a vários terreiros de candomblé, como o extinto Gunokô, a Casa Branca e o Ilê Axé Opô Afonjá, à maçonaria e irmandades católicas.

Miguel Sant’Anna faleceu em 15 de outubro de 1974 numa quarta-feira, às 08:30 da manhã. Com seis meses após a sua morte houve Axêxê (obrigações) na Casa Branca. A Sociedade prestou homenagem a Miguel Sant’Anna, Ogan Tataygbi, em reconhecimento aos benefícios que ele fez em vida à este terreiro. O professor Vivaldo Costa Lima, diretor do IPAC, lhe prestou uma homenagem póstuma, dando seu nome ao teatro que instalou na área do Pelourinho, localizado na rua em que nascera Miguel Sant’ Anna - chamada, então, de Beco do Mota e hoje denominada Leovigildo de Carvalho -, o Teatro Miguel Sant’Anna. Fonte de informação e inspiração da literatura, Miguel Sant’Anna acabou virando personagens de livros de Jorge Amado como Tereza Batista Cansada de Guerra, Tenda dos Milagres, Bahia de Todos os Santos, entre outros. Ele é citado também em vários livros que relatam a história de alguns terreiros de candomblé e da cidade no início do século. “Foi homem de muitas lutas, esse Miguel Obá Aré, e lutas nobres, de estofo social. Tem o nome ligado ao cais da Bahia, como estivador, prestador de serviços e líder. Pertenceu a uma das ‘elites de cor’.”, informou o vereador João Carlos Bacelar na orelha do livro em homenagem a Miguel Sant’Anna, co-editado pelo CEAO e EDUFBA. Falar de Miguel Sant’Anna é resgatar a memória de uma personalidade ecumênica de grande representatividade para a cultura baiana e que continua viva na lembrança de filhos e netos e de todos aqueles que o conheceram em vida.

Memoria viva

La cada día más increíble Maria Bethânia, su talentoso hermano -el compositor y cantante Caetano Veloso- y la centenaria madre de ambos, dona Canô Teles Veloso, entonan la "Oração da mãe Menininha" del recientemente fallecido Dorival "O moço" Caymmi. Emociónate conmigo, porque es todo un documento de memorias vivas.

"Olórun que mandou essa filha de Oxum tomar conta da gente e de todo cuidar/Olórum que mandou é, ô/rora yèyè o! "

Último adiós a Elisa Delle Piane



Hoy fue enterrada en el Cementerio Central la viuda del ex senador Zelmar Michelini, Elisa Delle Piane. La madre del senador Rafael Michelini y del viceministro de Educación y Cultura Felipe Michelini, falleció ayer a los 83 años de edad.

Delle Piane se casó muy joven con Michelini -asesinado en Buenos Aires en 1976 junto a Héctor Gutiérrez Ruiz- de quien tuvo diez hijos. Su esposo fue secuestrado en Buenos Aires el 18 de mayo de 1976 y el cuerpo fue encontrado el 21 de mayo junto con el de Gutiérrez Ruiz, Rosario Barredo y William Whitelaw.

Delle Piane tuvo un rol muy activo durante la campaña de recolección de firmas contra la ley de caducidad, que amnistió a policías y militares. El vicepresidente Rodolfo Nin Novoa trabajó en aquella campaña de derogación y contó ayer: "La conocí muy bien. Siento un profundo sentimiento de consternación. Dejó una huella en la historia política del país".

Lilí Lerena, la viuda del general Líber Seregni, se enteró de la noticia a media tarde, cuando le avisó por teléfono su hija Bethel. "La recuerdo con enorme ternura y cariño, a pesar de que no fui amiga permanente de ella. Como pasa con las mujeres de los políticos, nos veíamos por casualidad", relató.

La última vez que Lilí vio a Delle Piane fue hace casi un año, en la inauguración de la plaza Zelmar Michelini en Parque del Plata: "Esa vez la encontré un poco tristona. Fue una mujer que padeció tantos dolores y angustias -y que a pesar de todo crió a sus hijos y llegó a ver a sus nietos-, por lo que no puedo ser tan falsa y decir `¡cuánto siento que haya muerto Elisa!` Tengo que decir, ¡por fin descansó, pobre Elisa! Sufrió tanto".

Mientras, Matilde Rodríguez -la viuda de Gutiérrez Ruiz-, confesó estar "consternada y dolida", tras haber compartido "cosas muy importantes" con Delle Piane y ser muy amigas. "Somos dos familias muy hermanadas. Mis hijos y yo la queremos mucho. Tenía una personalidad muy rica. Se hacía querer", admitió.

Mensaje del presidente desde Israel

Desde Israel, el presidente Tabaré Vázquez envió un mensaje por el fallecimiento de Elisa Delle Piane: "Nos ha dejado una figura que conjugó la lucha por la libertad, por la justicia social y por la defensa de los derechos humanos. Trabajó mucho para que nunca más se vuelva a repetir el horror del totalitarismo de Estado". Vázquez envió su "más sentida condolencia" a sus hijos, "sobre todo a Rafael y Felipe".

El País

O pai-de-santo que reinventou a umbanda

O alagoano Carlos Buby transformou os rituais em cerimônias diurnas, bem organizadas e voltadas para o público de classe média. Com isso, seus 11 templos já atraíram mais de mil fiéis no Brasil, na Europa e nos Estados Unidos.

Mariana Sanches

INOVADOR

Sexta-feira, 8 horas da noite. O som dos atabaques – tambores africanos – ecoa na ampla sala. Em círculo, mulheres com saias rodadas e coloridas e homens de bata e turbante batem palmas e entoam cantos que evocam orixás e Pretos Velhos – espíritos que representariam escravos anciãos. Os fiéis procuram seguir os versos em português escritos em um panfleto. Eles dizem aguardar a presença das entidades para contar suas aflições. No fundo da sala, um pequeno altar enfeitado com plantas e flores sustenta a imagem de um índio, o Caboclo Guaracy.

Em instantes, os médiuns – os que recebem os espíritos – teriam começado a incorporar seus Pretos Velhos. A descrição seria fiel a diversos terreiros de umbanda, religião considerada brasileira, que agrega orixás do candomblé a entidades como o Caboclo e o Exu. Nessa casa, porém, boa parte dos umbandistas é francesa. O templo umbandista a poucos metros da Bastilha, no número 8 do beco Druinot, em Paris, França, é um dos 11 terreiros de umbanda espalhados por sete países e dirigidos por um único pai-de-santo: Carlos Buby. É assim que se apresenta o alagoano, de 57 anos, Sebastião Gomes de Souza. Em duas décadas, ele levou o Templo Guaracy do Brasil a Washington, Berkeley, Nova York, nos Estados Unidos; Quebec, no Canadá; Linhol, em Portugal; Graz, na Áustria; Genebra, na Suíça; Paris, Estrasburgo, na França. Lugares onde a religião era praticamente desconhecida. A expansão da umbanda promete ser ainda maior com a inauguração no ano que vem de filiais no México, na Espanha, na Grécia e no Peru. Enquanto no Brasil o número de umbandistas declarados decresce – segundo dados do IBGE, passou de 542 mil adeptos em 1991 para 432 mil em 2000 –, só os fiéis das casas de Buby já ultrapassam os mil.

Os números não são o que mais chama a atenção dos especialistas em umbanda. Eles dizem se surpreender com a nova umbanda criada por esse pai-de-santo. “É uma reedição moderna da religião”, afirma Vagner Gonçalves da Silva, antropólogo da Universidade de São Paulo. Para os sociólogos e antropólogos, Buby conseguiu tirar o templo do porão para alocá-lo em um espaço novo, que segue conceitos de arquitetura e estética. Os templos Guaracy apresentam várias novidades. A primeira delas é que são projetados e pensados para abrigar com conforto as classes média e alta, ao contrário dos templos de fundo de quintal. No exterior, a maioria dos freqüentadores é nativa, não brasileira. Outra inovação: normalmente, o pai-de-santo é responsável por apenas um terreiro. Carlos Buby controla uma rede de terreiros no Brasil e no exterior. Por meio de relatórios enviados por e-mail ao final de cada ritual, ele acompanha como cada filial se desenvolve. “É muito raro ver um pai-de-santo comandando vários templos. Filiais de centros na umbanda são uma inovação”, afirma Gonçalves da Silva.

Carlos Buby tem um físico enxuto. Sua estatura alta e seu porte são incomuns para quem afirma não fazer mais que meia hora de esteira por dia. A presença do dirigente nunca é ignorada. Por onde passa, as pessoas se viram com sorrisos, ainda que ele nem as cumprimente. “Buby tem uma energia incrível”, diz a biomédica paulistana Fabiana Ieger, que freqüenta há três anos um dos templos do Brasil. Ele também tem fama de fazer sucesso entre as mulheres. “O porte e o jeito de falar cativam. Ele chama a atenção das meninas.” Buby foi casado duas vezes s e hoje tem uma bela namorada, 36 anos mais nova que ele. Veste-se de modo simples, com bata e calça branca e um turbante de cor neutra. Se os fiéis reclamam de algo, é da falta de acesso a ele. Há mais de dez anos, o pai-de-santo não atende diretamente os visitantes. “Na última vez, em 1997, formou-se uma fila de 150 pessoas”, diz Buby. Apesar da fala mansa, ele não esconde o requinte das palavras e o poder de convencimento.

A origem desse líder umbandista faz jus à fama do Brasil como um país de forte sincretismo religioso. Batizado com o nome de Sebastião, santo que teria curado o irmão mais velho da coqueluche, o pai-de-santo nasceu em berço católico. Sua mãe, Natália Alves de Souza, afirma que não imaginava que o segundo filho fosse viver para – e dos – orixás. Os pais se mudaram para São Paulo porque queriam dar a ele, então com 7 anos, e a seus dois irmãos a possibilidade de estudo que não teriam na pequena Colônia Leopoldina, cidade de 17 mil habitantes a 84 quilômetros de Maceió. “Morávamos numa fazenda de cana-de-açúcar. Não tinha estrutura nem escola ali”, diz Natália.

Em São Paulo, as crianças puderam estudar. A família vivia do comércio e ia à missa todos os domingos. A trajetória do devoto coroinha da Igreja Matriz de Santo Amaro, em São Paulo, mudou quando ele completou 15 anos. Buby diz ter começado a sofrer de desmaios e dores de cabeça. Tornou-se um adolescente calado, sem entusiasmo pela vida. Perdeu o emprego de office-boy e não ia bem nos estudos. O pai-de-santo afirma que médicos, psicólogos e psiquiatras não conseguiram desvendar seu mal. “Meu diagnóstico veio dois anos depois: o Caboclo Ubiratan, em um terreiro de umbanda paulistano, disse que eu tinha mediunidade”, afirma. Um vizinho umbandista sugeriu a seus pais que o levassem a um centro. O pai-de-santo diz que os pais católicos acabaram por aceitar a idéia, mesmo acreditando que fosse pecado. Concordaram também que o filho continuasse a freqüentar o lugar por mais dois anos. Segundo Buby, foi quando o Caboclo Guaracy veio lhe dizer que era hora de fundar o próprio terreiro.
“Em 1997, na última vez em que atendi diretamente os fiéis, formou-se uma fila de 150 pessoas” Carlos Buby, pai-de-santo

Aos 19 anos, ele começou seu trabalho de modo caseiro, como tantos outros pais-de-santo. Buby afirma que incorporava o Caboclo na sala de casa, ajoelhado em frente a uma vela branca acesa sobre a radiovitrola, seu primeiro altar. De acordo com o pai-de-santo, no início, ele recebia os ensinamentos da entidade por intermédio de seu pai, que anotava tudo que entendia da fala enrolada do Caboclo. A irmã mais nova, Maria Aparecida de Souza, esperava pelo fim da sessão tremendo de medo. Aos poucos, ele passou a atender os conhecidos da família. Quando já não cabia mais gente na modesta casa do bairro paulistano Vila das Belezas, Buby resolveu montar um espaço próprio.

Embora diga que todas as mudanças que operou na religião tenham sido fruto de inspiração da entidade Caboclo Guaracy, as atitudes adotadas por Buby em seu templo demonstram ser resultado do planejamento de uma mente perspicaz e detalhista. Buby não chegou a completar o ensino fundamental. Repetiu seis vezes a 7a série e desistiu de estudar. Aparentemente, o conhecimento formal não fez falta. Quem o conhece diz que ele parece ter tino empresarial. “Ele é muito organizado e inteligente”, afirma Jamil Rachid, presidente da União de Tendas de Umbanda e Candomblé do Brasil. “Com administração regrada, o trabalho só pode prosperar.” A capacidade de organização veio com o trabalho no templo. Por volta dos 25 anos, Buby se dividia entre as funções de auxiliar de enfermagem durante o dia, pai-de-santo uma vez por semana e cantor de bar à noite. “Eu acabava as sessões, me trocava e passava a madrugada cantando em restaurante para conseguir me sustentar e manter o templo”, diz ele.

Após dez anos sem nenhum retorno na carreira musical, uma gravadora lhe propôs um bom contrato. Suas músicas seriam gravadas, mas ele teria de fazer inúmeras viagens para divulgação. “Eu ficaria 30 dias fora e dois em casa. Não tinha como conciliar a carreira de músico, de enfermeiro e dirigente de templo”, diz Buby. “Passei, então, a me dedicar totalmente à umbanda.” No início, os escassos dez filhos-de-santo –os médiuns sob a responsabilidade do pai-de-santo– e a casa rude e mal-acabada na Rua dos Missionários, em São Paulo, não permitiam prever a quantidade de seguidores e a suntuosidade que as casas do Caboclo Guaracy abrigariam. Hoje, há cerca de 430 filhos-de-santo brasileiros, divididos em dois templos no Estado de São Paulo. Um deles é s uma casa adornada por um lago artificial em que se criam carpas na região do bairro paulistano Campo Limpo. O outro, um sítio de 104.000 metros quadrados, com campos gramados, áreas de Mata Atlântica, um lago e uma cachoeira, em Cotia, na Grande São Paulo.

RITUAL E BELEZA
No templo de Cotia, as paredes são estilizadas. Nele, os médiuns ficam em círculo, formação incomum na umbanda. Os dois templos brasileiros foram arquitetonicamente projetados por Buby. São amplos, bem conservados e repletos de detalhes simbólicos. Durante o culto,todos os médiuns usam o mesmo modelo de roupa desenhado pelo pai-de-santo. Os objetos usados também são padronizados. Tudo parece estar sempre na mais perfeita ordem.

O Templo Guaracy em Cotia é aparentemente o melhor exemplo disso. Ao chegar lá, o fiel tem o conforto de um amplo estacionamento. É recepcionado por uma mulher com um turbante numa sala iluminada, com portas de vidro e cadeiras confortáveis. Numa escrivaninha descansa a tela plana do computador, no qual são registrados os dados do recém-chegado: nome completo, telefone, número do documento de identidade. As contas do templo estão no mesmo computador. “A informatização e o controle de freqüência são incomuns nos terreiros”, diz Milton Aguirre, presidente do Superior Órgão de Umbanda do Estado de São Paulo.

Vizinho à recepção, está o templo. Ele parece ter sido construído à semelhança de seu dirigente: imponente e sofisticado. Ao passar por uma das quatro portas de entrada, o visitante avista o colorido dos trajes dos umbandistas que dançam. No lugar de um velho reboco, paredes de barro graficamente desenhadas. O alto teto de palha dá um ar de suntuosidade. Ao contrário de outros centros, no Templo Guaracy os rituais são organizados de modo circular, com cada médium em seu lugar para dar maior visibilidade ao visitante. Evita-se qualquer ação que possa chocar ou constranger, como gritos ou a incorporação de espíritos que façam o médium se arrastar pelo chão. A duração dos cultos não passa de duas horas e sempre começa no horário, em sintonia com o relógio do pai-de-santo. “Isso tudo dá segurança à pessoa”, afirma Buby. “Quem entra aqui sabe que é um lugar organizado, que respeita horários.” Outra distinção importante: no terreiro de Buby o fiel não encontra Exus e Pombogiras, os espíritos que supostamente viriam do baixo povo. Bebidas alcoólicas não são ingeridas na frente dos freqüentadores, uma prática comum na umbanda. Boa parte dos cultos é feita à luz do sol, sempre com a presença de crianças. Também não há sacrifícios de animais.

O nascimento da umbanda

A versão mais aceita para a origem da umbanda estaria completando cem anos neste ano . Em 15 de novembro de 1908, o médium Zélio Fernandino de Moraes, considerado por muitos umbandistas como fundador da religião, teria incorporado o caboclo Sete Encruzilhadas em sua casa em Niterói. O fluminense Zélio tinha, nesse então, 17 anos. Ele sofria de paralisia e os médicos não conseguiam resolver seu mal. Para tentar sanar o problema, o jovem foi levado à federação espírita do estado do Rio de Janeiro. Ali, sua mediunidade foi supostamente revelada. A entidade caboclo Sete Encruzilhadas não teria sido aceita entre os espíritas por ser considerada inferior. A rejeição o levou a fundar a umbanda.


Carlos Buby moldou a religião para que fosse atraente e agradável para os letrados. “Buby criou uma umbanda clean”, afirma Lísias Negrão, sociólogo da Universidade de São Paulo (USP). O pai-de-santo diz que o estilo dos rituais faz parte da doutrina estabelecida pelo Caboclo Guaracy. Para ensinar esses preceitos, dá cursos pelos quais cobra até R$ 200. Nas aulas, os ditos médiuns, iniciantes ou não, tomam nota freneticamente enquanto Buby lança mão de conceitos científicos, como os genes ou a força da resistência do ar, para tentar explicar as energias dos orixás e suas formas de atuação.

“No Templo Guaracy, a arquitetura, os rituais, a filosofia e a explicação do mundo são complexos”, afirma a antropóloga húngara Viola Teisenhoffer, que faz doutorado sobre a expansão de terreiros de umbanda na França pela Universidade Paris X. “Eles atendem o tradicional umbandista e ainda atraem um público sofisticado, que provavelmente nunca pisaria num templo de fundo de quintal.”

É o caso da paulistana Daniela Matarazzo de 36 anos. A advogada da Embraer e ex-professora universitária, freqüenta o Templo Guaracy há seis anos. Daniela conheceu o lugar por meio de uma aluna de seu curso de Direito. “Eu trabalhava demais, vivia estressada e havia muito tempo não praticava minha religiosidade”, diz a advogada, cuja formação foi católica. Casada, mãe de dois filhos, com uma rotina estressante que a faz se dividir entre duas casas, uma em São José dos Campos onde trabalha, e a outra em São Paulo onde mora, ela afirma que o terreiro ajuda a melhorar sua qualidade de vida. “Vejo o templo como uma terapia. A umbanda se mostrou uma ótima oportunidade de refletir sobre a vida. Sempre saio com a auto-estima mais fortalecida.” Daniela nunca freqüentou outros terreiros antes e diz se sentir segura com o trabalho do Templo Guaracy. Quando questionada sobre outros terreiros ela hesita. “O que me fez ir ao Templo Guaracy foi o fato de os rituais serem de dia e de o lugar ser muito bonito, organizado e agradável”, afirma. “Se fosse à noite, num quartinho escuro, eu jamais iria. Tenho meus limites.”

Segundo o pai-de-santo todos os seus templos, inclusive aqueles fora do país, foram construídos com o dinheiro de doações dos freqüentadores. Ele também afirma que nunca houve transferência de caixa do Brasil para o exterior. “Cada templo se mantém com os recursos que consegue. Não há intercâmbio de dinheiro entre eles”, diz Buby. Ao contrário do que comumente acontece nos terreiros, ele não paga as contas do templo. Buby adota uma prática de muitas religiões tradicionais, mas exceção na umbanda: é sustentado pelo templo. Enquanto padres, bispos e rabinos recebem por se dedicar à religião, pais-de-santo da umbanda não se profissionalizam. Ao contrário, põem dinheiro do próprio bolso na instituição. “Mais de 90% dos terreiros são sustentados pelos dirigentes. Feliz é o pai-de-santo que consegue viver do dinheiro que sai dali”, afirma Rubens Saraceni, dirigente e autor de livros sobre o tema.

Buby transformou os dois templos de São Paulo em associações. Passou a convidar os freqüentadores, mesmo àqueles que só apareciam de vez em quando, a se tornar sócios. No início, a idéia era que cada membro brasileiro contribuísse com uma mensalidade de R$ 35. “É com esse dinheiro que mantemos a casa, mas se a pessoa não puder pagar não tem problema”, diz Buby. Muitos fiéis dos templos de Buby afirmam ser um preço justo pelo conforto e sofisticação que a casa oferece. Ainda assim, Buby diz que menos da metade paga o valor total. Ele exibiu as contas do terreiro para a reportagem de ÉPOCA. Nos recursos declarados por ele no Imposto de Renda de 2007, a arrecadação dos associados soma R$ 132.513, ou algo como R$ 11 mil por mês. “Muitos terreiros não arrecadam isso em um ano inteiro”, diz o líder umbandista Milton Aguirre. “Não conseguimos fazer com que os médiuns doem nem R$ 10.” Os gastos declarados no mesmo ano foram de R$ 173.289, resultando num saldo negativo de R$ 40.777. Buby diz que cobriu esse saldo negativo com os cursos que oferece. Ele também mostrou extratos de sua conta bancária pessoal – saldo negativo de R$ 700 – e da conta do templo – saldo positivo de R$ 2.114,17.

Se os templos paulistas foram planejados, o mesmo não aconteceu, -diz Buby- com os nove terreiros Guaracy fora do país. “Ter casas no exterior nunca foi minha intenção”, afirma. Ele não fala nenhuma língua estrangeira e se diz pouco afeito a viagens. Nos anos 80, psicólogos suíços e franceses em visita ao Brasil teriam ido conhecer o primeiro templo. “Eles ficaram fascinados. Em menos de três meses, voltaram querendo aprender sobre a tradição”, diz Buby. Desse interesse teria nascido o primeiro terreiro fora do Brasil, o Templo Guaracy de Genebra, na Suí­ça. Numa sala alugada, uma imagem do Caboclo Guaracy ocupou o centro do altar, adornado com flores, pedras e uma pequena fonte. Os suíços e os franceses compraram as roupas coloridas e bufantes criadas por Buby, modelo depois usado em todas as unidades. Para entender as entidades da umbanda os estrangeiros tiveram de estudar a história e o significado dos Caboclos e Pretos Velhos. Buby exigiu que todos os praticantes fizessem o culto em português. Fitas cassete gravadas com os cantos umbandistas foram reproduzidas à exaustão, até que o coro perdesse o sotaque.

Cassandra Kharam, professora americana de 39 anos, é uma das 40 pessoas que vão ao Templo Guaracy de Washington semanalmente. Filha de judeus, Cassandra foi a cultos islâmicos e conheceu a religião cubana santería, equivalente ao candomblé nos países centro-americanos. “O terreiro de umbanda foi o lugar em que me senti melhor”, diz. “Nos Estados Unidos, as pessoas estão carentes de um senso de comunidade e de maior positividade, coisas que a umbanda tem. As outras religiões são mais fechadas e unilaterais.”

Na Europa, talvez por curiosidade ou necessidade, franceses e austríacos começaram a viajar até Genebra para ouvir as palavras de um caboclo. “Pensamos, então, que seria possível formar templos na Áustria e na França”, afirma Maria Aparecida, irmã de Buby. Ela antes temia a aparição do Caboclo. Hoje, visita os terreiros no exterior a cada quatro meses. É a responsável por garantir que os rituais sejam idênticos aos realizados no Brasil. Depois de Genebra, Buby fundou outros quatro templos na Europa.


Os templos estrangeiros sofreram pequenas adaptações. Em Berkeley, nos EUA, é proibido fumar em locais fechados. Isso levou os médiuns a abandonar charutos e cachimbos usados nos rituais. Em Paris, os umbandistas estocam no congelador ervas importantes para os rituais, como o manjericão, que não resiste ao frio da cidade. Em Washington, grossas espumas isolam o som forte do atabaque do resto da vizinhança. Apesar dessas alterações, esses templos têm a mesma organização administrativa do Brasil. O trabalho é realizado por s coordenadores, pessoas escolhidas por Buby para resolver os problemas práticos e burocráticos das casas. Eles registram os visitantes, cuidam de uma loja de produtos religiosos e cobram mensalidades dos associados. Anualmente, os filhos-de-santo têm de vir ao Brasil. Para isso, Buby montou uma pousada em Cotia, na Grande São Paulo. “O pai nunca veio a nosso terreiro, por isso é importante irmos a seu país para beber na fonte da sabedoria”, afirma Krishna Ruano, coordenadora do templo de Nova York. “Ultimamente, não temos ido porque a viagem é muito cara.”

Essa é uma reclamação recorrente dos estrangeiros. Há quem diga que essas viagens anuais são um dos meios de Buby ganhar dinheiro. “A gente ia para ficar uns dez dias no Brasil. Ficávamos presos no templo e ainda pagávamos 30 euros por dia pela hospedagem”, diz um ex-filho-de-santo na Europa, que não quis se identificar. “O que ele faz não é umbanda. Ele não é um pai-de-santo, é um empresário, um agente de viagens.” Buby nega as acusações e afirma que sua intenção nunca foi lucrar com a religião. “Só tenho uma linha telefônica. Todas as propriedades estão em nome do templo”, diz.

Essa não é a única polêmica em que se envolveu o líder religioso. Em 1996, a psicoterapeuta francesa Barbara Schausser, coordenadora do terreiro de Paris, foi processada por duas pacientes que a acusaram de praticar rituais da seita para tratar a bulimia de ambas. Barbara teria usado a umbanda como forma de tratamento. Isso teria causado dependência emocional e isolamento social, segundo as francesas. A psicoterapeuta respondeu ao processo judicial com um outro, por difamação. A história acabou em acordo amigável entre as partes. “Eu vejo o templo como uma terapia. A umbanda se mostrou uma ótima oportunidade de refletir sobre a vida. Sempre saio com a auto-estima mais fortalecida” Daniela Matarazzo, 36 anos, advogada.

O caso teve grande repercussão na França. Reportagens foram publicadas em jornais de grande circulação, como o Libération. Depois desse episódio, Barbara perdeu a credencial de psicoterapeuta do Mutuelle Générale de L’Education Nationale, órgão oficial do governo francês que apóia pesquisas na área da saúde. “Sempre busquei alternativas a remédios no tratamento de vícios e doenças compulsivas. Foi o que fiz nesse caso”, diz Barbara. Mesmo após o processo, ela continua com as práticas umbandistas em seu consultório, mas afirma que nunca mais levou seus pacientes ao templo.

Embora alguns pais-de-santo digam que Buby quer padronizar a religião e controlar os fiéis, seu estilo de dirigir o terreiro parece ser uma alternativa para a sobrevivência da umbanda no Brasil. “A tendência é que diminua o número de umbandistas”, afirma Reginaldo Prandi, sociólogo da religião da USP. “Um dos grandes motivos para a perda de fiéis é o crescimento das igrejas evangélicas, com sistemas menos complexos e que exigem menos tempo e dedicação.” Nas igrejas pentecostais, não há vários deuses, como os orixás. “Na umbanda, é sempre preciso estar alerta, dar atenção aos orixás, aos guias, fazer trabalhos e há sempre a ameaça de que alguém manipule essas forças contra você”, diz a antropóloga Yvonne Maggie, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “Se a pessoa passa a acreditar que só Jesus salva, só ele é poderoso, tudo fica mais simples.”

É a idéia do medo do feitiço tão freqüente nos terreiros, que Buby procura afastar de seus rituais. “Não negociamos com Deus. Não acreditamos que os orixás sejam responsáveis pelo sucesso ou fracasso de alguém”, afirma. A nova leitura da crença feita por esse pai-de-santo, somada à administração moderna, pode atrair novos seguidores para a religião. “No futuro, quase todos os pais-de-santo serão como ele”, diz o antropólogo Vagner Gonçalves da Silva.

Para entender a umbanda: Significados de termos usados na religião

ADJÁ -Sino metálico de três bocas agitado pelo pai-de-santo
ARUANDA -Morada dos orixás, o céu na tradição católica
ATABAQUE -De origem árabe, é um instrumento de percussão africano, usado nos cantos
BABALORIXÁ -Sinônimo de pai-de-santo, que também pode ser dirigente de terreiro
ENCRUZILHADA -Nos cruzamentos de ruas, linhas férreas ou qualquer via terrestre estariam as moradas dos Exus e Pombogiras
GIRA -Nome dado aos rituais em que os espíritos viriam para atender os fiéis
GUIA -Entidades que os médiuns supostamente recebem. Também servem para designar os colares coloridos usados nos cultos
PEMBA -Tipo de giz que teria poderes mágicos, usado nos rituais de benzer

Os espíritos da umbanda: Os arquétipos das entidades que atendem os fiéis nos terreiros

CABOCLOS -Esses seriam os espíritos que se comportam como índios. Usam palavras em tupi. Fumam charuto e, por vezes, tomam cerveja. Usam cocar de penas e capas. Seriam os mais evoluídos, ao lado dos Pretos Velhos
PRETOS VELHOS -Representariam os escravos brasileiros. O médium que supostamente os recebe anda arqueado. Fumam cachimbo e tomam café. São procurados pelo poder de cura que teriam e nomeados de “vô” e “vó”
ERÊS -Seriam espíritos das crianças. A maior parte não sabe andar. Toma guaraná, chupa pirulito e benze os fiéis com brinquedos. Alegres, seus nomes estão no diminutivo. Chamam os adultos de “tio” ou “tia”
BAIANOS -Seriam arquétipos de espíritos nascidos na Bahia. Com forte sotaque baiano, usam expressões típicas, como “meu rei”. Fumam cigarro de palha, tomam batida de coco. Os homens geralmente carregam uma peixeira
BOIADEIROS -O mítico peão sertanejo responsável pelo gado seria representado por eles. hicote, boleadeiras e berrante são seus instrumentos. São valentes e fortes. Com voz grave, é difícil entender o que falam
MARINHEIROS -Quando baixam, faz o médium ter dificuldade de equilíbrio, chacoalhando de um lado para o outro, como se estivesse em alto-mar. Explicam o mundo por meio de metáforas
sobre navegação
CIGANOS -É uma nova entidade na umbanda. Eles dançam e tocam castanholas e pandeiros. A capacidade de adivinhação e leitura de cartas costuma estar relacionada à presença desses espíritos
EXUS/POMBOGIRAS -Conhecidos como espíritos que viriam do ambiênte prostibular, seriam capazes de fazer o mal em troca de bebidas ou velas pretas. O Exu toma uísque e cachaça. A Pombogira sidra, champanhe e anis



A psicóloga Barbara Schasseur, citada na reportagem, enviou a ÉPOCA a seguinte carta:

O processo a que a reportagem se refere foi na verdade iniciado por mim contra dois ex-pacientes em 1996, e não teve “grande repercussão na França”. A reportagem feita pelo Libération foi a única sobre o assunto, e saiu seis anos depois do processo, no momento da publicação de meu livro e de uma entrevista minha à Radio France. Essa reportagem foi feita por iniciativa de pessoas que criticavam minhas teorias e se apoiava na raiva de alguns pacientes.

Fui eu que me demiti da Mutuelle Générale de L’Éducation Nationale em 1999. A Mutuelle não é um órgão oficial do governo francês nem apóia pesquisas na área de saúde. É um fundo de aposentadoria complementar criado pelos professores franceses da Éducation Nationale, esta sim um serviço público.

Nunca perdi minha credencial com o governo. Não só sou psicoterapeuta, mas também doutora em psicologia clínica pela Universidade Paris VII, com diploma de medicina tradicional africana.

Não estou praticando umbanda no meu consultório. A umbanda é uma crença e uma religião que desenvolve a mediunidade para contactar entidades. Não levo nenhuma crença para dentro do meu consultório nem trabalho com mediunidade.

Nunca tentei tratar bulimia levando pacientes ao Templo Guaracy, porque sempre esteve claro para mim que o Templo Guaracy oferece um caminho espiritual, e não uma cura. A bulimia é uma doença grave, que precisa de ajuda especializada.

Por fim, gostaria de esclarecer que o Templo Guaracy de Paris é considerado pelo governo francês como um culto de tradição afro-brasileira, e não uma seita. Em 1996, na França, houve todo um movimento político e religioso perseguindo as associações que apoiavam conceitos espirituais. Uma “lista negra” das seitas foi publicada. O Templo Guaracy não entrou nessa lista porque sempre foi reconhecido na França, pelo governo, como um culto religioso,que respeita as leis do país. Se seus dirigentes foram criticados por algum motivo, é outra história.

Barbara Schasseur, Paris, França

O que é que a bahiana tem?

Paño de la Costa

Un símbolo vivo detenido en el tiempo

Casi en extinción, el paño de la Costa tradicional hecho de algodón en telar de mano encuentra en un anciano tejedor de la ciudad de Salvador su carta de sobrevivencia. Y su desaparición definitiva será cuando este maestro artesano que teje los paños de las iyawo vuelva al Òrun. La continuidad del trabajo artesanal está casi siempre vinculada a los intereses familiares, cuando las técnicas son perpetuadas por las nuevas generaciones manteniendo las mismas características de los trabajos originales.

Hoy, Abdías do Sacramento Nobre es el único artesano popular que fabrica paños de la Costa. Brasileño de Salvador y descendiente de africanos, recibió las enseñanzas del arte del tejido manual de Alexandre Gerardis da Conceição, su padrino africano que trabajaba exclusivamente para los terreiros, proveyendo los paños que eran usados por el personal religioso de las mismas. “El Maestro Abdías”, como es llamado y conocido, trabaja todos los días y como media su tiempo de producción es de seis horas. La fabricación de esta prenda es muy lenta y trabajosa porque todos los hilos de algodónson estirados de a uno para luego ser tejidos en el telar. El proceso tradicional es, en esta fabricación, seguido rigurosamente. El maestro Abdías respeta las enseñanzas que ha recibido y continúa tejiendo los paños de los orisha siguiendo paso a paso sin saltearse las etapas de ejecución del tejido. Un paño de la Costa lleva en tiempo continuo de trabajo entre dos y tres meses, y se convierte en una pieza única cuyo costo (en 1976) es del orden de Cr$ 5.000. Según el maestro artesano, son pocas las hijas de santo que pueden costearse uno de sus paños debido al precio que se ve obligado a fijar para compensar su material noble y trabajo, por lo que hoy su canal de venta está casi todo dirigido a turistas y coleccionistas que aprecian en su obra más que el simbolismo religioso o social el atractivo estético y la hechura tradicional. También se le ha preguntado sobre los nombres populares de estas originales piezas de vestir, así como la relación entre cada una de estas piezas y el orisha al que adornarán. “Existen los paños de Oshanlá, de Ògún, Yemanjá, Oshumare y Euwá –que ostentan sus símbolos y colores- y los de Obalúaiyé y Nàná que se forman con hilos de color morado en la trama”. De este modo, personalizando cada paño de la Costa como un tipo diferente y particular, el maestro Abdías amplía las focalizaciones sobre los diversos aspectos funcionales y simbólicos de la prenda, así como su importancia dentro de los ritos del terreiro.

“Paño de calabaza” es otro modo de llamarlo, pero este nombre está casi en desuso”. Y justifica: “Se les llama paños de cuia (calabaza cortada al medio) porque las viejas tías cuando salían a venderlos los transportaban en grandes recipientes de ese tipo. En las ferias y mercados los clientes revolvían las calabazas en busca de aquel que más les convenía, por eso eran así conocidos entre la gente del pueblo. El tejido era colocado en esos recipientes para protegerlos y poder fijar así los remates de cada pieza con trozos de madera o cantos rodados.” El proceso de coser el paño que realiza el artesano es el antiguo: las tiras realizadas en el pequeño telar de mano deben ser cosidas una a una siguiendo el padrón de diseño, y luego con un trozo de madera o una piedra lisa se golpean las uniones para disimular el añadido. Cuando lo tenemos en la mano creemos que un paño de la Costa es un tejido realizado en una sola etapa, sin embargo es una serie de tiras de más o menos quince centímetros de ancho por dos metros de largo que, unidas, forman el tradicional adorno bajo todos sus aspectos: textura del tejido, tamaño, técnica de descripción simbólica y color adecuado para el uso requerido. Paciencia y vocación son los dos requisitos más imprescindibles al artesano que confecciona y conoce los secretos del paño de la Costa. El maestro Abdías se sabe el único en desplegar este arte, pero también el último, lo que habrá de provocar la total desaparición de esta pieza del vestuario sagrado como objeto único de técnica exquisita.

Habrá que recurrir entonces a los paños tejidos en serie y en telares industriales, seguramente mucho más baratos, aunque carentes de personalidad y magia…

Raúl Lody

Falleció el legendario músico brasileño Dorival Caymmi



Río de Janeiro - Dorival Caymmi, considerado uno de los fundadores de la moderna música popular brasileña falleció este sábado a los 94 años, con el reconocimiento general por haberla dado a conocer fuera de las fronteras nacionales.

Poseedor de una fuerte voz grave, participó por última vez en un gran espectáculo hace cuatro años, en compañía de sus hijos Dori, Danilo y Nana para celebrar sus 90 años de vida, ocasión en que grabó su último disco.

"Perdimos al mayor profesor de nuestras vidas", lamentó el también compositor e intérprete baiano Tom Zé tras destacar la creatividad de Caymmi al componer canciones que representaron una innovación, al exaltar las cosas simples de su tierra.

"Su música es una traducción completa de Bahia", señaló por su parte el presidente brasileño Luiz Inacio -Lula- da Silva, al señalar la importancia de esas canciones para consolidar la identidad de los brasileños.

En una entrevista Caymmi aseguró que su inspiración provenía de las calles de Salvador de Bahia, donde los vendedores ambulantes pregonaban sus dulces de coco o las exquisitas comidas callejeras llenas de pimienta a gritos que intercalaban con palabras de yoruba, el idioma heredado de los esclavos africanos.

Las canciones sobre pescadores y mujeres seductoras grabadas en más de 50 discos, sirvieron de inspiración para su obra, de la misma forma que para su amigo y coterráneo, el escritor Jorge Amado.

"Dorival no fue solamente un gran artista, que eso todo el mundo lo sabe; fue también un gran hombre"- dijo Doña Canó, una señora de 100 años y madre de los cantantes Caetano Veloso y Maria Bethânia.

Toda su obra se relacionó con Bahia, su tierra natal, pese a que con 24 años se fue a vivir a Rio de Janeiro donde alcanzó la fama gracias a sus interpretaciones en vivo en la Radio Nacional. En la Radio Nacional conoció a su mujer Stella Maris (nombre artístico de la cantante Stella Tostes),con quien convivió durante 68 años.

Uno de sus mayores éxitos, la canción "O que é que a baiana tem?" (¿Qué tiene la bahiana?) compuesta cuando tenía 16 años, se hizo popular al ser interpretada por Carmen Miranda en las películas de Hollywood después de la Segunda Guerra Mundial.

Los grandes músicos de la Bossa Nova lo trataron siempre con mucha reverencia y sus canciones fueron grabadas por João Gilberto, Tom Jobim y Vinicius de Moraes."Yo creo que fue uno de los modelos de cómo ser brasileño", dijo su nieta y biógrafa Stella Caymmi.

Las canciones de Caymmi fueron también una forma de reconocimiento de la legitimidad y la importancia del rito afrobrasileño del Candomblé y uno de sus mayores éxitos fue justamente la canción "Oração da mãe Menininha", en homenaje a una de las líderes de esa religión, doña Maria Escolástica da Conceição Nazaré, con quien el cantante tuvo una estrecha relación de amistad y respeto espiritual por más de setenta años.

9 y 10 de agosto: Cuarto Módulo del Seminario sobre Batuque

Y como quien no quiere un plato de sopa hay cuatro, llegamos al cuarto módulo del excepcional emprendimiento ideado por ìyá Fáwunmi -ìyá Peggie ti Yemoja Abíké- en la Asociación Omi O Bàbá! Un encuentro fraterno, distendido y movilizador que intenta definir nuestra modalidad religiosa describiéndola desde la lógica de los fundamentos recibidos de nuestros mayores, sin interpolaciones ni exégesis.
Junto a bàbá José de Xapanã, un veterano sacerdote que rebosa experiencia práctica por haber convivido con los más grandes exponentes de esta variante así como con relevantes figuras del candomblé bahiano, bàbá Alfredo de Ògún Onírè -Presidente de la Federación Metropolitana- y la invaluable presencia técnica de ìyá Zulema en el apoyo logístico, estos talleres conferencias han ido navegando hacia los temas más cargados de escollos logrando no sólo salir de ellos indemnes sino aún más optimistas en lo que atañe a la ardua tarea emprendida.
Imposible no participar en ellos: primero porque es posible refrescar nuestro conocimiento acerca de mitos, funciones y detalles rituales de nuestra complicada liturgia; luego porque el debate respetuoso y franco permite evaluar y cotejar las ideas para discernir cuándo son parte de nuestro ethos y cuándo un añadido carente de contenidos religiosos.

No lamento dejar de ir en esta oportunidad a reencontrar a mis hermanos argentinos por una sola causa: el festejo a ìyá Òsun en mi casa. Orisha de mi nación litúrgica, de mi iyalorisha venerada y compañera del que cuida mi cabeza, Òsun es el segundo orisha de esta comunidad de culto y su fiesta no puede ser movida por cuestiones personales mías ya que representa el crecimiento nutritivo de esta comunidad.
Sin embargo estaré en Omi O Bàbá! con el corazón. Porque la siento un poco como mi casa dado el afecto con que se me acoge, porque se trata de una reunión de amigos y porque creo profundamente en este ciclo de charlas que mucho nos hace falta y enriquece.
Desde aquí mi apoyo moral este mes ya que no material, pero intacto. No me abro del proyecto por disgustos inexistentes, por desacuerdos ni nada por el estilo: me reclama mi deber familiar y sé que los compañeros expositores comprenden perfectamente mi proceder.

Es como siempre el segundo fin de semana del mes -agosto 9 y 10- en la sede de Omi O Bàbá!, Avenida San Martín 4278, Florida.
Un abrazo a todos y hasta la próxima etapa.

Hace 25 años...

El 29 de julio hizo un cuarto de siglo de la firma del documento "Chega de sincretismo" por las venerables iyalorisha bahianas mãe Menininha do Gantois (Maria Escolástica da Conceição Nazaré), mãe Tetê de Iansã (Juliana Baraúna) mãe Olga do Alákètù (Olga Francisca Régis) doné Nicinha do Bogum y mãe Stella de Oxossi (Stella de Azevedo Santos)

Representaban a la flor y nata del candomblé: mãe Tetê dirigía el Ilé Axe Iya Naso desde el que a mediados del Siglo XIX se desprendiera el Ilé Axe Omin Iyamase (Gantois) y luego en 1910 el Ilé Axe Opo Afònjá. El Alákètù -Ilé Axe Maroiá Làjé- es una raíz diferente y el Bogum -Kwé Zogodo Bogun Malé Ki Hùndo- representa la raíz dahomeyana más antigua en Bahía.

La posición conjunta estaba dirigida fundamentalmente a
1) no ser tratado (el candomblé) como una "secta" de la iglesia Católica sino como una religión con todo lo que esto implica;
2) prohibir el uso comercial y folclórico/carnavalero de ropajes, símbolos y estandartes de carácter sagrado,
3) discontinuar el lavado del atrio de la iglesia de Bomfim como en la época de la esclavitud
4) relegar las imágenes de santos a la devoción privada y no al culto oficial de los orisha
5) no recibir en los terreiros turistas con sus cámaras de fotografía para captar "lo insólito", "lo exótico" o "lo primitivo"

Yo, que soy un adherente a estos principios, pienso que en estos años transcurridos donde la única que queda viva -y coherente con ese manifiesto que sin duda fue quien lo alentó, redactó y corrigió- es mãe Stella Ode Kayode, han servido de poco para concienciar a la mayoría de los religiosos afrobrasileños de la justicia de esta proclama. La falta de conceptos claros, la vanidad y el ego personales, el apego a la tradición bastardeada y sobre todo la necesidad de sentirse parte de la sociedad por ser católico (o aparentar serlo) y ganar así un cierto alivio del medio circundante ha conducido, salvo en pocos casos puntuales, al fracaso de la propuesta. Seguimos exhibiendo trajes de orisha en carnaval, los bahianos siguen llevando combis a algunos terreiros complacientes que por lógica cobran entrada como si se tratase de un espectáculo, se mantienen las fechas del martirologio como días de festejo a orisha...
En este vigésimo quinto aniversario de un documento revolucionario, dignificante y esclarecedor, me pongo de pie ante la augusta memoria de las ìyá fallecidas que borraron con el codo la firma que asentaron. Pero bato con humildad mi cabeza ante Ode Kayode que persistió en el empeño al menos en su casa -casa de ngó, por cierto- con la serena dignidad de una reina, creando un pequeño museo -el Ohùn làí làí- donde las imágenes de otra religión que no es la nuestra descansan de una cotidiana veneración para erigirse en memoria de épocas pasadas donde no había otro remedio que disfrazar o maquillar la realidad.

Salve Stella, hija dilecta del Cazador Invencible, superintendenta de ngó, Guardiana de la Religión de sus mayores, forjadora de nuevos senderos en este bosque de símbolos... Que no se pierda la semilla de tu luz. Fàrà ìmòra!