Veja só! Resistencia bahiana al "pare de sufrir"







Casa do Rei Oxalá
Liderança: Leodegario Mendes de Brito
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Ano de fundação: 1939
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Cosme de Farias.
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Reação à intolerância religiosa: diga não ao preconceito


III Caminhada pela Vida e Liberdade Religiosa reúne cinco mil pessoas emSalvador contra a intolerância e o preconceito.
Jamile Menezes Santos, Jornalista(Bahia)
jamyllem@hotmail.com
Foto: Wilson MilitaoEm meio a cerca de cinco mil religiosos do Candomblé dentre pais, mães, filhos e filhas de santo, duas senhoras começam a distribuir panfletos com mensagens bíblicas. Até então tudo respeitoso, até quando a distribuição começa a ganhar palavras de ordem: “Conheçam Jesus!”, ou “A religião de vocês é do Diabo, nosso Deus é bom! Confusão formada e logo apartada por algumas pessoas. Não bastando a manifestação discriminatória explícita, logo depois a agressão: da janela de uma casa alguém joga água sobre os religiosos que, vestidos de branco, pediam respeito ao culto dos Orixás. Essas manifestações de intolerância buscavam intimidar, sem resultado, os participantes da III Caminhada pela Vida e Liberdade Religiosa, realizada em Salvador no dia 25 de novembro.


A religião do Candomblé foi tema de muitas atividades durante o mês da Consciência Negra na capital baiana. As agressões motivadas pela intolerância das seitas evangélicas são vivenciadas cotidianamente por muitos Terreiros em Salvador, em especial nos bairros onde estas comunidades estão mais concentradas. “Aqui na minha comunidade (Itapuã), apesar de termos vencido a Igreja Universal na justiça por conta do crime cometido contra Mãe Gilda, ainda sofro perseguição por grupos de evangélicos. É só entrarem às lojas e as pessoas saem correndo, somos ofendidas na rua por estar trajando roupas religiosas. São ofensas todos os dias aqui, dirigidas a mim e aos filhos da Casa”, denuncia a ialorixá Jaciara Ribeiro, filha de Gildásia dos Santos, falecida em 2000 após perseguição sofrida por evangélicos. Seu caso ganhou repercussão nacional e se tornou referência no combate à intolerância na Bahia.

As manifestações públicas que exigem respeito aos rituais sagrados, à indumentária religiosa e, principalmente, aos Orixás, são uma forma de se chamar a atenção das autoridades para a gravidade das agressões sofridas pelos adeptos do Candomblé, na Bahia e no Brasil. Conhecer os direitos e saber o que é possível fazer em termos legais para assegurar a livre manifestação religiosa é fundamental: “Sem o conhecimento de nossa força, essência e nossa religião, não conhecemos o que nos é mais sagrado, que é nossa história. Isso nos fortalece”, afirmou Mãe Beata de Iemanjá, ialorixá doIlê Axé Omi Ojuarô (RJ), também presente na Caminhada em Salvador.


Combate e Mapeamento - Os agressores não se limitam às palavras e à pregação contra os deuses africanos. O desrespeito contra os adeptos do Candomblé também vem em atos de agressão mais diretos. “O que vemos são casos de ofensas e agressões mais individuais, partindo de alguns fiéis mais fanáticos. O que temos feito é apurado estes casos que chegam até a Promotoria, estreitando a relação com os líderes das igrejas evangélicas para que eles cooperem na eliminação desse comportamento indesejável de seus seguidores”, aponta Almiro Sena, da Promotoria de Justiça de Combate ao Racismo e Intolerância Religiosa. Este combate, inclusive, é um dos resultados esperados com a instituição do Programa de Valorização do Patrimônio Afro-Brasileiro, um produto direto do Projeto Mapeamento de Terreiros de Salvador, realizado pelo Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia (Ceao), em parceria com órgãos municipais em 2006.


Foto: Wilson MilitaoO Programa foi instituído pela lei 7.216 e sancionada pelo prefeito de Salvador João Henrique este ano. Com o Mapeamento foram cadastra-dos 1.161 Terreiros em Salvador, o que deverá servir de suporte para implementação de políticas públicas visando a qualidade de vida nestas comunidades, de acordo com a Secretaria Municipal de Reparação (SEMUR) Para tanto, ainda estão sendo esperados recursos que virão de parcerias estabelecidas pela Secretaria. “Essas políticas agora têm o embasamento legal para acontecer. Os próximos governos que vierem encontrarão agora uma legislação e não só mais uma demanda destas comunidades. Agora é política de Estado a valorização do patrimônio afro-brasileiro”, pontuou o secretário de Governo da Prefeitura, Gilmar Santiago. Com o Programa, fica instituído que Terreiros de Candomblé e a própria religião terão o reconhecimento enquanto patrimônio e que sejam encarados como tal pelos poderes públicos.


“Isso não é apenas um Mapeamento, é na verdade uma porta que se abre para a discussão sobre patrimônio afro-brasileiro que, historicamente, nunca teve uma política pública organizada e direcionada a sua valorização. Com esse diagnóstico, temos uma base de dados que nos possibilitará exigir políticas públicas de forma mais sistemática aos diversos órgãos”, explica o subsecretário da Reparação Antônio Cosme, que aponta as conseqüências desses resultados no combate direto à intolerância religiosa. “As comunidades de Candomblé sofrem uma perseguição sistemática por parte de diversas correntes evangélicas. Sabemos que não é à toa que elas abrem suas igrejas onde há um número expressivo de Terreiros e os dados mapeados irão nos auxiliar em muito no estudo de questões como estas, para que possamos garantir os direitos das comunidades”, diz Antonio Cosme.


Realidades de grande tensão semelhantes à de bairros periféricos tais como Paripe, no subúrbio de Salvador, terceiro em número de Terreiros - 40 ao todo - segundo o mapeamento. “Esse desrespeito está em todo lugar, nas tevês, rádios e, principalmente, em nosso cotidiano. Precisamos aprender mais sobre nossa religião para que possamos nos defender desses ataques. Eles sabem quem somos e em que acreditamos, mas insistem em vir pregar à nossa porta, tentar nos convencer de que o Deus deles é melhor. Aqui, acredito que só não atacam mais porque sei dos meus direitos e conheço minha religião. Sei até onde eles podem ir”, enfatiza o Babalorixá DaryMota, do Ilê Axé Torroundê, no bairro de Paripe.


Já em 2009 serão beneficiados 55 Terreiros em Salvador, com ações que envolvem a infra-estrutura e regularização. Os dados colhidos no Mapeamento de Terreiros em Salvador já podem ser acessados no endereço eletrônico www.terreiros.ceao.ufba.br. No site, há informações sobre localização, nome do dirigente, nação, ano de fundação e fotografias dos Terreiros, assim como sobre as ações que serão desenvolvidas em cada um deles.

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No dia 13 de janeiro de 2005, foi assinada sentença obrigando a Igreja Universal do Reino de Deus a indenizar os familiares da ialorixá Gildásia dos Santos, a Mãe Gilda, em pouco mais de R$ 1,3 milhão, por danos morais. Em 1999, o jornal da igreja Folha Universal, publicou uma foto da religiosa em matéria sob o título "Macumbeiros charlatões lesam o bolso e a vida dos clientes". Hoje, a sentença aguarda julgamento no Supremo Tribunal Federal. Confira de poimento da ialorixá Jaciara Ribeiro (filha de Mãe Gilda), do Axé Abassá de Ogum:


Ìrohìn: Qual o resultado da ação movida contra a Igreja Universal?

JB: Há oito anos conseguimos levar a Iurd ao tribunal. Hoje a decisão está no Supremo, em Brasília, pois eles alegam que não pagarão a indenização porque Mãe Gilda já faleceu. Eles não têm interesse em pagar para não dar visibilidade ao povo de santo e à derrota deles diante de nós.


Ìrohìn: O que a Sra. sente quanto a este caso?


JB: Infelizmente nossa religião ainda não tem um órgão qualificado para assessorar nosso povo e acredito ser muito uma questão política também. Não temos representação política que assuma a religião de fato e que lute por nós. Reconheço que só em ter levado eles ao tribunal já foi uma grande vitória. Mas sei também que muito ainda nos devem pela perseguição que passamos e sofremos todos os dias.


Ìrohìn: Algo mudou em sua comunidade após essa vitória?


JB: Hoje temos essa sistematização de igrejas pentecostais como um atestado da intolerância religiosa. Aqui no Abassá de Ogum tenho caminhado muito, falado muito sobre isso. Na verdade, damos mil passos, mas sentimos no final que é apenas um pela falta de crença que temos no poder do Estado em nos assegurar nossos direitos. Dia desses fui abordada por oito evangélicos de uma Igreja à qual pertence um dos que invadiram o Terreiro há alguns anos. Ameaçaram me evangelizar e me diziam que nada na minha vida daria certo por conta de minha religião. Temos passado momentos difíceis na comunidade. Vemos que o povo de santo está uma disposição maior para ir ás ruas, denunciar. Mas ainda é muito pouco diante do que a Emtursa e Bahiatursa vendem, que é a Bahia. Esse culto diário aos Orixás onde tudo é sagrado, é encanto, e atrai turistas. Nada disso se traduz em melhoria para nós. Temos que caminhar muito para mudar esse quadro. Quando vemos o outro xingar nosso Orixá de Diabo é muito desgastante para nós. Entristece, dá raiva. Temos oito anos nessa caminhada árdua e o que nos importa agora é que se há leis, que sejam cumpridas. Os outros têm que nos conhecer e respeitar e saber do crime que cometem ao agirem de tal forma.

Hoy 27 de noviembre


hace 24 años que los orientales escogimos volver a la democracia...

¡Que viva la República!

Lévi-Strauss cumple 100 años

El destacado antropólogo, uno de los intelectuales más relevantes del siglo XX y padre del enfoque estructuralista de las ciencias sociales, celebra un siglo de vida.


Javier Albisu, EFE

Claude Lévi-Strauss, uno de los intelectuales más relevantes del siglo XX, destacado antropólogo y padre del enfoque estructuralista de las ciencias sociales, que influyó de manera decisiva en la filosofía, la sociología, la historia y la teoría de la literatura, cumple cien años de vida. 
A pesar de su longevidad e intensa actividad intelectual desde antes de la Segunda Guerra Mundial, Lévi-Strauss - miembro de la Academia de Francia desde 1973 - goza de buena salud y se mantiene lúcido, como relató a la prensa el director del museo Quai Branly de París, Stéphane Martin, institución que alberga un teatro con el nombre del célebre antropólogo. 
Francés nacido en Bruselas el 28 de noviembre de 1908, este centenario humanista es hijo de un judío agnóstico de origen alsaciano que le educó en un ambiente artístico, aunque terminó cursando estudios de Derecho y Filosofía en la Sorbona de París. 

El autor de "Mythologiques" ejerció como profesor de esta última disciplina hasta que recibió una invitación de Marcel Mauss, padre de la etnología francesa, para ingresar en el recién creado Departamento de Etnografía. Fue así como despertó en Lévi-Strauss la curiosidad por una materia en la que desarrollaría una brillante carrera y que le ha concedido un "lugar preeminente entre los investigadores del siglo XX", explicó a Efe el profesor de Antropología Social de la Universidad Complutense de Madrid, Rafael Díaz Maderuelo. 

Su nueva vocación le llevó a aceptar un puesto como profesor visitante en la universidad brasileña de São Paulo, de 1935 a 1939, estancia que le posibilitó llevar a cabo trabajos de campo en el estado amazónico de Mato Grosso y en la Amazonía. Allí realizó estancias esporádicas entre los bororo, los nambikwara y los tupi-kawahib, experiencias que le orientaron definitivamente como profesional de la Antropología, campo en el que su trabajo aún hoy "sigue siendo válido para la mayoría de los antropólogos", señaló Díaz Maderuelo sobre el autor de "La Pensée sauvage". 

Tras regresar a Francia, en 1942 se trasladó a Estados Unidos como profesor visitante en la New School for Social Research de Nueva York, antes de un breve paso por la embajada francesa en Washington como agregado cultural.  De vuelta a París, fue nombrado director asociado del Museo del Hombre y se convirtió después en director de estudios en la École Pratique des Hautes Études entre 1950 y 1974, trabajo que combinó con su enseñanza de Antropología Social en el Collège de France, hasta su jubilación en 1982, al tiempo que dirigía el Laboratorio de Antropología Social. 

Hijo intelectual de Émile Durkheim y de Mauss, e interesado por la obra de Karl Marx, por el psicoanálisis de Sigmund Freud, la lingüística de Ferdinand de Saussure y Roman Jakobson, el formalismo de Vladimir Propp y un largo etcétera, es además un apasionado de la música, la geología, la botánica y la astronomía.

Las aportaciones más decisivas del trabajo de Lévi-Strauss se pueden resumir en tres grandes temas: la teoría de la alianza, los procesos mentales del conocimiento humano y la estructura de los mitos. 

La teoría de la alianza defiende que el parentesco tiene más que ver con la alianza entre dos familias por matrimonio respectivo entre sus miembros que, como sostenían algunos antropólogos británicos, con la ascendencia de un antepasado común.
Para Lévi-Strauss, no existe una "diferencia significativa entre el pensamiento primitivo y el civilizado", señaló Díaz Maderuelo, pues la mente humana "organiza el conocimiento en parejas binarias y opuestas que se organizan de acuerdo con la lógica" y "tanto el mito como la ciencia están estructurados por pares de opuestos relacionados lógicamente".

Comparten, por tanto, la misma estructura, sólo que aplicada a diferentes cosas.

Respecto a los mitos, el intelectual sostiene desde la reflexión sobre el tabú del incesto que el impulso sexual puede ser regulado gracias a la cultura. 

"El hombre no mantiene relaciones indiscriminadas, sino que las piensa previamente para distinguirlas. Desde ese momento ha perdido su naturaleza animal y se ha convertido en un ser cultural", comentó Díaz Maderuelo.

Para Lévi-Strauss las estructuras no son realidades concretas, sino más bien modelos cognitivos de la realidad que sirven al hombre en su vida cotidiana.
Las reglas por las que las unidades de la cultura se combinan no son producto de la invención humana y el paso del animal natural al animal cultural -a través de la adquisición del lenguaje, la preparación de los alimentos, la formación de relaciones sociales, etc.- sino que siguen unas leyes ya determinadas por su estructura biológica. 





¡Pobre Patricia Janiot!


El domingo pasado hubo elecciones estaduales en la República Bolivariana de Venezuela, donde con masiva presencia electoral se eligieron autoridades. El candidato a presidente vitalicio hizo una lectura muy particular y propia de los resultados en los que utilizó cuarenta minutos por reloj para responder una simple pregunta a Patricia Janiot de la cadena CNN durante la conferencia de prensa, seguro que iba "en vivo" a las pantallas de todo el mundo... 
Mientras tanto, el precio del barril de crudo sigue bajando. 

Giro político / Se recorta el poder de Hugo Chávez

La oposición gana terreno en Venezuela

Pese al triunfo oficialista en 17 de los 22 estados en juego, el chavismo perdió en cinco de las gobernaciones más ricas y pobladas.

La oposición gana terreno en Venezuela
El festejo de la oposición en la ciudad de Maracaibo Foto: AP

CARACAS.- A casi un año de su primera derrota en las urnas, el presidente Hugo Chávez sufrió un triunfo agridulce en los comicios regionales celebrados anteayer en Venezuela, en los que la oposición logró un fuerte avance y ganó en los estados más poblados y ricos del país.

Pese a que el oficialismo triunfó en 17 de los 22 estados en disputa, la oposición se alzó con cinco gobernaciones, que juntas concentran el 70% de la actividad económica nacional, y con la alcaldía de Caracas, cuyo intendente ocupa el segundo cargo político más influyente en Venezuela después del presidente.

Gracias a estos triunfos, el 45% de los 28 millones de venezolanos serán gobernados a nivel regional por la envalentonada oposición, que proclamó sus victorias como un sólido rechazo al proyecto socialista que impulsa Chávez, cuyo mandato finalizará en 2013.

"El mapa político de Venezuela ha comenzado a cambiar", resumió Manuel Rosales, gobernador saliente del estado petrolero de Zulia, que se consolidó como bastión opositor pese a la intensa campaña que Chávez desplegó en esa región.

Contabilizado un 95,6% de las mesas, el Consejo Nacional Electoral (CNE) informó ayer que los candidatos del Partido Socialista Unido de Venezuela (PSUV), fundado por Chávez en diciembre de 2006 para aglutinar a sus seguidores, ganaron en 17 estados, casi todos con baja densidad poblacional y con una base agropecuaria, mientras que la oposición le arrebató al oficialismo las gobernaciones de Miranda, el industrial Carabobo y el fronterizo Táchira y conservó las de Zulia y Nueva Esparta.

La gran sorpresa de la noche electoral, sin embargo, fue el triunfo del candidato opositor Antonio Ledezma en la alcaldía de Caracas frente a Aristóbulo Istúriz, una de las figuras más emblemáticas y populares del PSUV, por siete puntos porcentuales (52% contra 45%).

El oficialismo también sufrió un revés contundente en el populoso y rico estado de Miranda, cuyo gobernador Diosdado Cabello, considerado la mano derecha de Chávez, fue derrotado por el opositor Henrique Capriles por 52,5 contra 46,6% de los votos.

Estos triunfos suponen un claro avance de la oposición -que en los comicios de 2004 sólo había cosechado dos estados-, con la que Chávez deberá, a partir de ahora, empezar a dialogar. El mandatario además, que había sugerido que dependiendo de los resultados podría volver a proponer la reelección presidencial ilimitada, deberá también reconsiderar esa propuesta que fue rechazada dentro de un proyecto de reforma constitucional sometido a referéndum en diciembre de 2007.

Los grandes derrotados de la jornada, en tanto, fueron los disidentes del chavismo, los partidos Podemos y Patria Para Todos (PPT), que no ganaron ninguna de las cuatro gobernaciones en las que se postularon por su cuenta luego de distanciarse del PSUV.

Según los analistas, el alto costo de vida, con una inflación galopante que ronda el 25%, la gran inseguridad, el enorme déficit habitacional y las carencias del Estado para dar servicios básicos son algunos de los motivos que explican los resultados de los comicios.

Una "gran victoria"

Pese a que durante la campaña había advertido que consideraría una derrota "perder por lo menos tres gobernaciones", Chávez se felicitó anteanoche por la "gran victoria" de su partido, que, según dijo, ratificó el camino de la "construcción del socialismo".

"Es una gran victoria del PSUV, que ratifica el camino de la construcción del socialismo, y nosotros nos encargaremos de profundizarlo y extenderlo. El pueblo me está indicando: «Chávez, sigue por el mismo camino, el del socialismo bolivariano, la revolución bolivariana»", declaró el mandatario que recorrió frenéticamente el país haciendo campaña para apoyar a sus candidatos y convirtió las elecciones en un plebiscito sobre su gestión, al afirmar que lo que se dirimía en los comicios era el futuro de su "revolución socialista".

Chávez, en el poder desde 1998, se congratuló, además, del histórico nivel de participación, que superó el 65% del electorado, todo un récord para unos comicios regionales en Venezuela, y felicitó a la oposición por sus victorias.

"Quiero felicitar a los triunfadores de los partidos de la oposición. Yo reconozco su victoria y les hago un llamado al más alto compromiso democrático. Ojalá gobiernen con honestidad, respeto al gobierno nacional y a las instituciones", pidió Chávez, que durante la campaña había amenazado con sacar los tanques a la calle si los opositores obtenían gobiernos clave como Miranda, Zulia o Táchira.

Los candidatos ganadores de la oposición por su parte expresaron su disposición a trabajar con el gobierno y afirmaron que las acusaciones lanzadas durante la campaña son parte del pasado.

"Nuestro llamado al gobierno nacional, vamos a trabajar con mucho optimismo y con mucha vocación. Quiero felicitar a todos los alcaldes que resultaron elegidos, sin importar su tendencia política", afirmó el gobernador electo del estado central de Miranda, Henrique Capriles.

Agencias AP, AFP, DPA, EFE y Reuters 

Los derechos humanos empiezan por casa

No a la violencia doméstica.
Hoy es el Día Mundial contra la Violencia Doméstica hacia la Mujer

Cada 25 de Noviembre, desde 1981, se conmemora a nivel mundial el Día Internacional por la No Violencia contra las Mujeres. La fecha responde al asesinato de las tres hermanas Mirabal a manos del régimen dictatorial de Rafael Trujillo, en República Dominicana.

La historia de la mujer es, casi en su totalidad, la historia de la violencia contra la mujer. El nuestro es un mundo en el que el machismo ha dejado desde siempre su marca de sangre y opresión. Y no hay que gozar de demasiadas luces para imaginar quiénes han sido sus principales víctimas (aunque no las únicas) En este contexto, me atrevo entonces a transcribir un fragmento del texto que leyera la periodista Liliana Daunes, del día sábado 22 de noviembre de 2008, en su habitual columna de Marca de Radio y cuyo audio completo pueden escuchar en el sitio del programa. Dice la Daunes:
"Yo soy María Soledad, violada y asesinada en Catamarca; Teresa Rodríguez, muerta cuando reprimían un piquete allá en el sur; Sandra Cabrera, asesinada en Rosario; Liliana Tallarico, asesinada en La Plata. Soy las mujeres de Juárez. Soy todas las asesinadas por odio. También soy Romina Tejerina, presa y reprimida en Jujuy. Y Claudia Sosa de Mendoza y Etelvina y Patricia y la "Galle", presas. He sido violada por Hoyos en Salta. Soy Elly Díaz, violada por Benavidez en Córdoba. Soy Leila y Patricia, violadas y asesinadas en Santiago del Estero. Soy las mujeres asesinadas en Mar del Plata; la trabajadora violada en el ANSES; las niñas violadas en el Congreso. Soy María (me violó mi papá). Soy Marita, Vanesa, Lidia, Fernanda, Andrea y tantas secuestradas para el tráfico sexual en La Rioja, Tucumán, Córdoba, Corrientes, Río Gallegos, La Pampa... Soy las abusadas por los curas del poder. Soy las originarias desterradas de sus casas. Soy las wichis desnutridas. Soy la beba que no llegó al hospital. Soy la niña de once años violada y embarazada porque no hay ley que nos ampare. Soy una africana sin clítoris; una musulmana que pueden lapidar; una colombiana desplazada expuesta a la violencia paramilitar. Soy una mujer estéril por un aborto mal practicado. Soy aquella que murió tras un aborto clandestino. Soy Ana María Acevedo (me dejaron morir en un hospital de Santa Fe). Yo soy la castigada, la invisible, soy la maltratada. ¿Quién ha cavado estos agujeros? ¿Quién ha roto mi mirada? ¿Quién ha desoído mi respiración de espanto? ¿Quién ha cortado, golpe a golpe, los pedazos que me arman? Me repliego muda. Las palabras vuelan lejos. No las sujeto, como si me esquivasen desde el principio de los siglos. Palabras vacías que se deletrean sonido a sonido perdiendo su significado. Como toda criatura marginada, expoliada, espiada y exiliada, me quedo sin lenguaje. Entonces recuerdo que existe el grito. Que puedo gritar 'soy mujer, travestí, transexual, lesbiana, intersex, boliviana, negra, musulmana, inmigrante, pobre, oprimida'... Soy la que está HARTA, la que se rebela, la que se organiza, la que quiere cambiar las relaciones sociales, la que quiere desterrar la injusticia, la que lucha contra el patriarcado" .

Yo sabía que la Daunes no me podía fallar, que tendría la palabra justa para una conmemoración como esta. Sin embargo, a pesar de la fugaz mención, tampoco en su discurso estuvieron lo suficientemente presentes otras mujeres que junto a muchos hombres también son víctimas de esta sociedad machista que las margina, las expolia, las espía y las exilia.

Ellas saben muy bien qué es la violencia. Lo saben ya desde la escuela primaria, cuando sus compañeritos se burlan de su diferencia. Lo saben mucho mejor el día en que toman la decision de asumir quiénes son en realidad y sus papás les dicen que ya no pueden seguir viviendo bajo su mismo techo.

En la calle se dan cuenta de que su decisión fue, cuando menos audaz y que ciertas audacias se pagan con el cuerpo. Que para la sociedad ellas no son ellas, que para la sociedad cuenta más lo que dice el DNI que el grito sordo de sus sentimientos más profundos.

El odio tiene muchas caras y, en sus casos, el odio se les presenta día a día en el rostro de aquellos que se niegan a llamarlas por su nombre y se empeñan en recordarles el nombre de ese ser de fantasía que existe solamente en sus partidas de nacimiento. El odio también se camufla detrás de la sonrisa que les niega un trabajo formal, del médico que las interna en la sala equivocada o del que directamente se niega a asistirlas como corresponde. Está presente en la televisión, la radio, las revistas o cualquier otro medio o persona que se burle de lo que ellas son. O cuando las señalan por miedo a alguna peste.

Pero sobre todo el odio se muestra libre de caretas en el uniforme del policía que se las lleva presas con la excusa de la prostitución; en el puño de quien las persigue, las golpea, las tortura y las asesina; en la mirada de aquellos que las condenan a sobrevivir y a morir sin reconocer su dignidad.

En definitiva, el odio asume fatalmente la imagen del olvido.

Y ya sé que al leer estas líneas, no faltará quien sonría con sorna restándole valor a mis palabras, negándoles a estas mujeres (una vez más) su carácter de tales. A esas personas las invito a hurgar más allá de lo heredado, a cuestionar cuántas verdades se nos dieron hechas. En la medida en que pueda darse cuenta de que ser mujer es mucho más que tener una vagina, podrá también sentir el alivio de que ser varón es mucho más que tener un pene.
(Aporte de mãe Noelia Luna, Buenos Aires, Argentina)

Ciudad de dios

Oficialmente laica y de raigambre católica, Montevideo alberga diversidad de fenómenos religiosos, algunas de cuyas expresiones solemos desconocer. Sobre esa pluralidad, Montevideo Portal entrevistó a Néstor Da Costa, coordinador de la Guía de la diversidad religiosa de Montevideo.

Ciudad de dios
Néstor Da Costa es sociólogo y se ha especializado en sociología de las religiones. Se desempeña como coordinador internacional del Proyecto Alfa de la Unión Europea titulado “Religión y Modernidad en Europa y América Latina” por el Instituto Universitario Claeh, del que es docente e investigador. Es Director del Departamento de Ciencias de la Religión de la Universidad Católica del Uruguay.

Es el coordinador de la Guía de la diversidad religiosa de Montevideo, obra recientemente publicada por Editorial Taurus, y que ofrece una completa investigación de los colectivos religiosos presentes en nuestra capital, tanto los grupos mayoritarios y populares, como aquellos cuya existencia suele pasar inadvertida para quienes no los integran.

En entrevista con Montevideo Portal, Da Costa explicó la génesis, características y alcances del trabajo realizado por su joven equipo.

¿Cómo nace la idea del libro?
La idea del libro nace en el Claeh, tras más de diez años de investigaciones cuantitativas, que dan cuenta de que 8 de cada 10 uruguayos creen en dios, y que uno ve en la tele, la calle y en los barrios distintos grupos de culto religioso. La constatación de que vivimos a diario rodeados de estos grupos de los que no sabemos nada nos decidió a poner el tema sobre la mesa.

Ya que se trata de las opciones que los uruguayos transitan al expresar sus religiosidad, o al menos parte de ellas ¿Por qué no hacerlas visibles?, dado que indican que somos una sociedad diversa y colorida, pese a que normalmente los uruguayos creemos que no lo somos.

¿Existe una suerte de "orgullo laico"?
Hay, en efecto, una confusión entre la laicidad y la ausencia de religiosidad.

 "Somos una sociedad diversa y colorida, pese a que normalmente los uruguayos creemos que no lo somos". 

La afirmación contenida en el libro de que 8 de cada 10 uruguayos cree en dios, ¿implica que practican una religión de un modo militante?
Los militantes, como en todos los aspectos de la vida, son pocos. Lo que hay es una aproximación a la búsqueda de la trascendencia, que a veces se da a través de tradiciones concretas como las iglesias, donde hay personas que se involucran más que otras pero que se sienten parte de una institución Por otra parte, en Uruguay, al igual que en el resto de occidente, hay un grupo creciente de personas que creen en dios, pero no lo hacen a través de las instituciones religiosas sino que van componiendo -a veces con elementos que sí provienen e tradiciones, otras no- su propia búsqueda de trascendencia. No se trata de un fenómeno propio del Uruguay, sino que ocurre a nivel de todo occidente.

¿Quiénes son los integrantes del equipo que llevó adelante las investigaciones para cada capítulo de la obra?
Se trata de diez investigadores jóvenes, y esa juventud fue clave a la hora de elegirlos, así como el hecho de que provinieran de áreas distintas, como ciencias políticas, historia, sociología o trabajos en el aérea de comunicación. Desde un principio nos interesó que el equipo de trabajo fuera lo más diverso posible, para que la aproximación al fenómeno religioso no se diera sólo desde un lugar. En cuanto al "requisito de juventud", entendemos que el joven tiene una mirada distinta, y demás en nuestro país, lamentablemente no hay formación en cuanto al estudio de los fenómenos religiosos a nivel universitario, con la sola excepción de la Universidad católica. En cualquier lugar del mundo hay cursos, grados y postgrados en el estudio de lo religioso. Aquí parece mantenerse una idea de que lo religioso no importa. Por eso entendemos que investigadores jóvenes estarán mucho más fresco para incorporar elementos teóricos nuevos, otras miradas.

En el libro la información correspondiente a la cantidad de feligreses de cada iglesia, suele ser provista por la propia institución ¿disponen de datos obtenidos por otra vía?
No. El Instituto Nacional de Estadística, y/o las encuestas que realizamos los que nos dedicamos a esto, sólo pueden dar cuenta de los grandes números, como la iglesia católica, el conjunto del movimiento cristiano en general, mormones, etc. Para los grupos pequeños no hay fiabilidad porque el número de casos es muy reducido para una encuesta. Estamos hablando de instituciones con pocos miles, o veces sólo cientos de feligreses. Las cifras manejadas parten entonces de las propias iglesias y son fruto de una cierta apreciación que ellas tienen de si mismas.

La investigación registra la presencia de de algunas iglesias, sobre todo algunas vinculadas a colonias de inmigrantes, que parecen estar en decadencia, al menos respecto a su número. Por otra parte, otras religiones ofrecen una apariencia de gran crecimiento reciente ¿existe una migración interreligiosa, en la que unas reciben y otras pierden?

Sí. En realidad, hace cosa de 20 o 30 años se pensaba que la religión iba a desaparecer, tema que en la actualidad está totalmente fuera de discusión. Lo que sí está claro es que así como el mundo se transforma en todo sentido, hay una transformación de lo religioso, así como una movilidad religiosa. Hay gente proveniente de una tradición que luego pasa a otra, gente que deja de ser creyente, otros que fueron creyentes en su niñez, luego abandonaron la religión pero acabaron por regresar más adelante. Es claro que las iglesias llamadas de migración, como es el caso de los valdenses, rusos, o ingleses, etc, y están muy vinculadas a sus grupos de origen son iglesias casi étnicas. En la medida en que esos grupos no se desarrollan mucho en el país, se hace muy difícil que su mensaje llegue a personas fuera de esos grupos a los que se encuentran asociadas.

  "En Uruguay, al igual que en el resto de occidente, hay un grupo creciente de personas que creen en dios, pero no lo hacen a través de las instituciones religiosas".,

Por otra parte están las llamadas iglesias de misión que procuran difundir su mensaje más allá de la comunidad en la que se encuentren, con un mensaje lo más amplio posible. En este grupo pueden localizarse varias instituciones históricas. Finalmente, están los dos fenómenos de mayor crecimiento en la región en los últimos años: el mundo afrobrasileño en los años 70 y 80, y el mundo neo pentecostal, que prosperó en los 90 y en los comienzos de este siglo. Son fenómenos nuevos y con dinámicas diferentes, que se caracterizan por una gran movilidad. En números quizá no sean tan relevantes, pero sí en cuanto a visibilidad y a que expresan una dinámica de cambio, diferente a lo que uno conoce.

¿Se trata de instituciones con mucha presencia en los medios masivos?
Mucha presencia mediática y pública en lugares muy visibles, que cambia lo que uno solía ver en el panorama religioso de Montevideo.

En la obra también se explica que algunos grupos religiosos no quisieron brindar información ¿qué tipo de instituciones eran?

Por suerte fueron los menos. La gran mayoría tuvo una actitud abierta, e incluso invitaban a los investigadores a presenciar los cultos y hablar con los fieles, lo que resultó muy enriquecedor para la obra. Pero el rechazo vino de parte de grupos que parecen sentirse amenazados por las investigaciones.

¿Estos grupos que no colaboraron, son los mismos que poseen una gran presencia en radio y televisión?

En algunos casos sí, pero en otros no. En realidad hubo dos casos extremos, uno de ellos perteneciente a ese tipo de iglesias que mencionabas, que fue la que no nos brindó ninguna información. Es más, no hubo manera de hablar con ningún representante. Por tanto, terminamos por apelar a datos secundarios provenientes por ejemplo de Brasil, donde existen tesis acerca de estos grupos. Pero quizá uno de los mayores aportes del libro consiste en consignar grupos religiosos que, por lo general, ni siquiera sabemos que existen. Grupos que uno ve en el extranjero, pero que -aun cuando se trate de comunidades pequeñas- se encuentran también en nuestro país. Por ejemplo, calculamos que hay trescientos islámicos uruguayos. Son poquitos, pero es un síntoma de que algo está pasando allí, y señalan una pluralización del espacio religioso, una tendencia a la pérdida del monopolio por las grandes instituciones religiosas, y una tendencia a que aparezca una diversidad.Además, estas nuevas y pequeñas instituciones religiosas tienen la ventaja de que no cargan sobre sus espaldas cientos o miles de años, y poseen una mayor agilidad a la hora de manejar los medios de comunicación.

Son una especie de Pymes de la religión...

(Ríe) Claro, son muy dinámicas y apelan mucho a los medios.

A la hora de analizar la información recabada ¿encontraste algo que te resultara sorprendente, o algún fenómeno muy propio de Montevideo?

En lo personal no, porque yo ya tenía bastantes nociones al respecto dado que llevo veinte años trabajando en el área. Pero los investigadores sí se sorprendieron ante perspectivas diferentes cuya existencia en Uruguay desconocían, encontrándose con particularidades de pensamiento e incluso diferencias de lenguaje. Por ejemplo, uno de los investigadores interrogó a un grupo religioso acerca de su manera de evangelizar, y le contestaron que ellos no creían en el evangelio, por tanto no evangelizaban. Esto es una muestra de cómo uno habla desde sus propios códigos culturales, y se encuentra con interlocutores que manejan otros. También resultó muy enriquecedor para estos jóvenes investigadores visitar los lugares de culto, hablar no solo con las autoridades de las iglesias sino con los fieles. Eso posibilita dialogar con gente normal, tan inteligente como cualquier otra, que canalizaba su religiosidad por vías que ellos no hubieran sospechado. Y como no es fácil saber en qué cree cada grupo, cuándo llegaron al Uruguay o dónde y en qué situación se encuentran hoy, la guía pretende atender a eso.

¿Cuál es el aporte fundamental del libro para interpretar la religiosidad montevideana hoy, y su proyección futura?

La guía es útil para vernos hoy, aquí y ahora. Lo primero que dice quien abre el libro es "¿todo esto hay en Montevideo?", y eso que no está todo. Son 54 grupos, pero iglesias pentecostales hay muchas más. Lo que la guía es ofrece es una imagen bastante completa de lo que somos y creemos lo montevideanos, con información para que podamos entender esa variedad ¿Qué va a pasar en el futuro? Por suerte los sociólogos tendemos cada vez menos a decir qué va a pasar, porque no lo sabemos; pero en este caso hay algunas tendencias que son claras, como la tendencia la fortalecimiento de una religiosidad menos militante y más buscadora en lo personal de cada individuo. Hay una búsqueda espiritual que no se encuadra necesariamente dentro de las iglesias e instituciones religiosas, e incluso cuando sí se encuadran en esas instituciones, experimentan cada vez más una flexibilidad doctrinaria. Pocas décadas atrás, si un católico estaba en contra de lo que decía el papa, prácticamente no se lo consideraba un católico. Hoy esa realidad cambió, y lo hemos podido comprobar en diversos temas como por ejemplo la sexualidad. También en el caso puntual de la polémica sobre la despenalización o no del aborto, donde hay gente católica que ha apoyado una u otra postura de la forma más diversa, más allá de la opinión oficial de su iglesia. En la actualidad, el individuo cada vez gana más relevancia y poder de decisión, y eso no sólo ocurre en lo religioso, sino que es una tendencia que vemos en general dentro de la sociedad, a pasarle cada vez más capacidad de decisión a los individuos y menos a las corporaciones. 


 

"La guía es útil para vernos hoy, aquí y ahora. Lo primero que dice quien abre el libro es '¿todo esto hay en Montevideo?'"

 

 


Esta tendencia actual según la cual el individuo construye un poco a su manera su forma de creer ¿empobrece quizá el debate teológico, que en otros tiempos interesaba a toda la sociedad y no sólo a los expertos?

Venimos de un periodo de siglos en que la religión ocupó el centro de las sociedades, hacia una época donde las religiones abandonan ese puesto privilegiado de atención desplazadas por temas como la política y la economía. En ese sentido, puede notarse que el peso de las instituciones religiosas tiende a ser menor. La preocupación teológica continúa existiendo, pero limitada a determinados círculos, ya no a todo nivel. Sin embargo, al ahora de analizar a los creyentes más militantes, a los más cercanos al núcleo de cada iglesia aparecen los debates, y no sólo a nivel de sacerdotes o teólogos, sino también de laicos. Fuera de esos ámbitos es más difícil encontrar polémicas sobre esa clase de temas. A la mayoría de los creyentes le preocupa menos en su vivencia de la fe, la definición teológica “dura”, que lo que le aporta a su vida cotidiana. Recordemos que temas como la virginidad de María, que siglos atrás fue un verdadero drama para católicos y protestantes, hoy a la mayoría de los católicos les importa poco, excepto a aquellos núcleos minoritarios que se dedican al estudio de tales asuntos.

¿Está en los planes del equipo extender la iniciativa al resto del país?

Ojalá podamos hacerlo. Existe una sola restricción para ello y es económica. Trasladar la investigación no sólo a las capitales departamentales, sino a diversos parajes del país, supone un gran esfuerzo.

¿Esperan encontrar diferencias significativas con lo que sucede en Montevideo?

Probablemente hallemos otros grupos de iglesias que tengan mayor relevancia en un sitio u otro, como por ejemplo el templo budista tibetano ubicado en Minas. También podemos suponer que hallaremos cierta clase de experiencias religiosas en la frontera brasileña, y oras hacia el lado de Argentina, pero de momento sólo se rata de conjeturas e hipótesis de trabajo sobre un área de estudio que no hemos podido mapear. Ojalá podamos conseguir los fondos que es lo más difícil de todo esto para ver si podemos hacer un relevamiento a nivel nacional.

¿Cómo se financió la Guía de Montevideo?

Se financió de dos formas. En primer lugar, prácticamente todos quienes trabajamos en el proyecto lo hicimos de forma honoraria, con costos mínimos. El CLAEH colaboró aportando toda la infraestructura y apoyo, con todo lo que significa salas, tiempo de los asistentes, etc. Luego, la editorial Taurus asumió los costos de la edición, y además hizo un muy buen trabajo, porque la guía quedó muy práctica y fácil de consultar. Eso contribuye a que el libro sea una herramienta para analizar mejor una diversidad que a veces olvidamos que existe.


Guía de la diversidad religiosa de Montevideo.
Coordinador: Néstor Da Costa.
Investigadores: Lorena Albanés, María José Arágor, Giuliana Caputto, Patricia Catz, Carla Chiappara, Fira Chmiel, Verónica Gallesio, Gerardo Iglesias, José Miguel Juanena, Denise Mermelstein.
Editorial Taurus.
Montevideo, 2008
Número de páginas: 425
Precio: $ 480

 
 

Nota de redacción: la ortografía se atiene las normas generales: uso de las mayúsculas para nombres propios, y minúsculas para las religiones o corrientes de pensamiento y sus seguidores, cargos y títulos, prácticas y ritos.

Los diamantes son los mejores amigos de una chica...

JORGE ABBONDANZA

Conviene que el mundo lo sepa. La candidata a vicepresidenta de Estados Unidos por el Partido Republicanoque por el momento se desempeña como gobernadora de Alaska, no sabía si África es un continente o un país. Esa ignorancia es grave, tanto como su tendencia belicista, ya que en plena campaña se declaró partidaria de invadir Irán y Venezuela, entre otras metas militares.

Como los pueblos no son tontos, el Partido Republicano perdió las elecciones y la inefable postulante debió volver a Alaska, desde donde anunció que le gustaría ser candidata a la presidencia en algún momento del futuro. Ese peligro, empero, es insignificante comparado con los riesgos que corre la población africana, bajo extremos de penuria, violencia, epidemias y hambre sobre los cuales la gobernadora de Alaska no tiene la menor idea.

Ahora en cambio puede tener tiempo para comprar algunos libros e informarse sobre el mundo en el que aspira a jugar un papel, si es que no está demasiado ocupada en planificar la conquista de Irán. 

 El panorama africano resulta hoy más cercano que nunca a la sensibilidad uruguaya, porque hay tropas de nuestro país en la frontera del Congo, donde se producen desde hace semanas los enfrentamientos de una guerra civil en plena expansión. Pero esa crisis sólo es un aspecto de la calamidad general, en un continente saqueado desde el siglo XIX por la voracidad colonialista, fenómeno al que Occidente sólo dedica atención para abastecer la truculencia de los titulares de prensa, pero no para remediar la situación de esos desheredados, a los que las Naciones Unidas miran de reojo para no complicarse la vida ni salir al rescate de quienes bordean la desesperación, que son muchos millones.

En estos días, los servicios internacionales utilizados por los informativos montevideanos de la televisión mostraron nuevas imágenes de África que dejan a cualquier espectador desconsolado. Allí se hablaba de los diamantes, esas piedras preciosas que alimentan un rendidor negocio de joyería y cuya mayor riqueza está en África.

Pero los diamantes no alivian la condición de vida de ningún africano, porque los dirigentes regionales cambian las piedras por armas y así las gemas que después lucirán en anillos y pulseras sólo son redituables para los mercaderes y talladores de Rotterdam, Nueva York, Londres o Tel Aviv. En África, quienes los extraen de las minas siguen sobreviviendo en plena miseria, pero reciben metralletas para multiplicar la masacre, ya que no el bienestar.

El informe de televisión señalaba que un misterioso intermediario de origen posiblemente ruso, posee una flota de 50 aviones de transporte, con los que aterriza en improvisados aeropuertos africanos para entregar armamento proveniente de Europa Oriental, a cambio del cual se lleva las bolsas de diamantes.

El subsuelo del Congo por ejemplo, es riquísimo en minerales entre los cuales figuran el oro y las piedras preciosas. De esas reservas se aprovechan los grandes mercachifles de Europa y Estados Unidos, hasta hacerlas desembocar en las vidrieras de la Place Vendôme o la Quinta Avenida.

Pero de ese tráfico, y del destino escalofriante de los mineros africanos (o del raquitismo y la disentería de sus hijos), no se ha enterado la candidata a la vicepresidencia de Estados Unidos. Por eso el mundo es lo que es. 

Las penas son de nosotros...

...las vaquitas son ajenas!

 Dubai - Ignorando la crisis económica mundial, Dubai inauguró el jueves por la noche un nuevo hotel de lujo edificado en una isla artificial con una fiesta extravagante de 20 millones de dólares. La fiesta acabó avanzada la noche, con unos gigantescos fuegos artificiales que iluminaron la costa del emirato. 

Más de 2.000 personalidades fueron invitadas por la sociedad Kerzner International del magnate sudafricano Sol Kerzner y su socio local, la promotora inmobiliaria Najeel - controlada por el emirato - para la inauguración oficial de "Atlantis, The Palm", un hotel de cinco estrellas que abrió sus puertas en septiembre. Entre los invitados figuraban actores como Robert De Niro, cantantes como Janet Jackson, empresarios como Richard Branson y glorias deportivas como Boris Becker y Michael Jordan. Los fuegos artificiales estuvieron precedidos de un concierto de la cantante australiana Kylie Minogue.

El hotel se eleva en "Palm Jumeirah", la primera de las tres islas artificiales en forma de palmera que está construyendo Najeel. "Aquí donde nos encontramos, hace cinco años había sólo agua", declaró en su discurso el sultán Ahmad ben Sulayem, presidente de Najeel.

El hotel es un establecimiento de gran lujo que ha costado 1.500 millones de dólares. Cuenta con 1.539 habitaciones y está formado por dos torres de color rosáceo unidas por un puente que acoge una suite, que por noche cuesta 35.000 dólares. Además, el hotel tiene el mayor parque acuático de Oriente Medio y un gigantesco acuario de 11 millones de litros de agua y 65.000 peces, entre ellos un cetáceo. Aunque Dubai no ha escapado a los efectos de la crisis, Kerzner y el presidente de Najeel dejaron de lado las preocupaciones el jueves por la noche, justo el tiempo para una de esas fiestas en Dubai - un emirato conservador - en las que corre el alcohol y en la que los lugareños vestidos con ropas tradicionales se mezclan con muchachas de indumentaria más ligera.

Kerzner dijo a la AFP que la factura de 20 millones de dólares por la fiesta "incluía todo" y que la cifra estaba en consonancia con la importancia del proyecto. De 73 años, Kerzner hizo su fortuna en los años setenta y ochenta construyendo en Sudáfrica hoteles y casinos, entre ellos la famosa Sun City, en el territorio de las reservas negras a las que el régimen del apartheid concedió una falsa autonomía.

La fiesta se llevó a cabo pese a que Dubai, cuya prosperidad se asienta en el petróleo, el turismo y el sector inmobiliario comienza a sentir los efectos de una crisis de la que se creía protegido. 

Así, el gobierno anunció la creación de una comisión para evaluar el impacto de la crisis y proponer ayudas a ciertos sectores, como el bancario y el inmobiliario. La misma Najeel tuvo que anunciar hace unos días que iba a aminorar su ritmo de desarrollo, pese a que la construcción de las tres islas en forma de palmera está lejos de estar acabada. Por su parte, Kerzner International acaba de despedir a 800 trabajadores de su primer Atlantis, situado en las Bahamas.

AFP

El País Digital

MOVIMIENTO AFROCULTURAL BONGA

22 de Noviembre - a partir de las 16 hs.

Herrera 313 - Barracas

entrada libre y gratuita

DÍA DE LA CONCIENCIA NEGRA

Cuando alguien empieza a practicar alguna forma de cultura negra, lo quiera o no está participando de un proceso de más de cuatrocientos años de esclavización, opresión y despojo cultural de una raza por otra. Si uno participa con respeto y ayuda a ubicar a la cultura negra, con sus características específicas y sin olvidar sus orígenes en el lugar que se merece en el patrimonio cultural de la humanidad, está ayudando, mínimamente, a reparar cientos de años de injusticia.

Alejandro Frigerio

El 20 de noviembre, Día de la Conciencia Negra, se conmemora el fallecimiento de Zumbí, líder del Quilombo de Palmares, el más importante espacio de resistencia de africanos, pueblos originarios y blancos marginados que tuvo la región hoy llamada Brasil en tiempos de la esclavitud.

Zumbí fue asesinado y mutilado el 20 de noviembre de 1695, y su cabeza fue expuesta públicamente para el escarmiento popular.

Sin embargo, su resistencia pasó a ser un legado, símbolo de libertad.

En el nombre de Zumbí se encarnó y encarna el reclamo por el reconocimiento, el respeto y la igualdad de derechos de todos aquellos que se encuentran en condiciones de injusticia.

El Movimiento Afrocultural convoca, al igual que todos los años,  a participar en el Día de la Conciencia Negra el 22 de noviembre próximo en su sede, Herrera 313.

El Movimiento Afro cultural es una organización surgida en la década del '80, dedicada íntegra y exclusivamente a la investigación, rescate y difusión de la cultura afro. A partir de ese momento trabaja ininterrumpidamente en pos de la revalorización y visibilización de los aportes de dicha cultura a nuestra sociedad.

Desde el año 2000 funciona en un galpón del barrio porteño de Barracas ubicado en Herrera 313.

Su desalojo es inminente, y, a pesar de las múltiples gestiones realizadas aún no obtuvimos respuestas para su reubicación.

Tenemos la fuerte convicción de que este último quilombo urbano, como ha sido definido el Movimiento Afrocultural por el Dr. Alejandro Frigerio, no  debe desaparecer y aún más, el trabajo que allí se realiza debe multiplicarse, para lo cual resulta impostergable la adjudicación de un espacio físico en la Ciudad de Buenos Aires.

Es nuestro deseo que en este día tomemos conciencia de la necesidad de aunar fuerzas para que se re-visibilicen los fundamentos y raíces de esta cultura, tan valiosa e importante para la comprensión de nuestra identidad.

Los esperamos y agradecemos la difusión de esta gacetilla. 

 
 
 
CRONOGRAMA DE ACTIVIDADES PARA EL 
DÍA DE LA CONCIENCIA NEGRA

16 hs.   APERTURA

             PROYECCIÓN DE VIDEO

17 hs. RODA DE CAPOEIRA ANGOLA (Grupo Liberación Capoeira Angola y grupos invitados)

18:30 hs. DANZA DEL XIRÊ DE ORIXÁS (Isa Soares)

19:30 hs.  CHARLA-DEBATE

"Políticas de exclusión históricas y actuales"

  • Comunidad afro descendiente
  • Pueblos originarios
  • Educación
  • Salud
  • Cultura
  • Vivienda
  • Empleo
  • Desalojo

Moderadores: Diana Maffía, Alejandro Frigerio, Olga Choquetopa, Diego Bonga, Ernesto Costa Robledo

21 hs. SIKURIS "Khan Pacha"

22 hs. CANDOMBE (Con la presencia y participación de los referentes del candombe en Buenos Aires)

MOVIMIENTO AFROCULTURAL BONGA

HERRERA 313 – BARRACAS –

+Info

movimiento_afrocultural@yahoo.com.ar

grupoliberacion@gmail.com

http://www.capoeiraliberacion.com.ar/

http://movimientoafrocultural.blogspot.com/

Los esperamos a todos y desde ya, agradecemos su difusión.

información de prensa:

http://wwwrevistaquilombo.com.ar/revistas/34/q34.htm Nota: "Muerte por causa dudosa"

http://www.anred.org/article.php3?id_article=2407  Nota: El sistema es racista y discrimina

http://www.anred.org/article.php3?id_article=2363  Nota: Aunque sin cadenas hoy la esclavitud continua
http://wwwrevistaquilombo.com.ar/revistas/29/q29.htm Nota: Cultura Afro herramienta de transformación social


De ATABAQUE


                                                                                                            

Montevideo 16 de noviembre de 2008       
Pai Milton de Xangó 
De nuestra mayor consideración
                                                                                                        Por este medio les invitamos a participar del festejo de los 11 años de ATABAQUE en la sala Galería Acuña de Figueroa, Subsuelo del Edificio Anexo al Palacio Legislativo, el próximo viernes 28 de noviembre a las 18:30 hs. con horario de finalización 22:00 hs.

                                                        Usted recibirá en la oportunidad una Distinción Conmemorativa ATABAQUE 2008 Homenaje a la labor espiritual y trayectoria religiosa afroumbandista. 

                                                       Su templo, hijos de religión y simpatizantes, también son invitados a acompañarle en tan importante momento, que será registrado para las páginas de nuestro periódico y por la prensa en general.  
                                                       
Pensamos en una celebración con invitados de diversos ámbitos del quehacer social, político, civil y religioso, la entrega de reconocimientos y palabras de presencias especiales.

                                                        Queremos celebrar junto a amistades y hermanos de fe, que de alguna manera han sido parte de nuestras páginas a lo largo de estos once años. La vestimenta es libre. Quienes quieran concurrir de ropa ritual -la que sientan más a gusto- pueden hacerlo y los que deseen vestir ropa civil también serán bienvenidos. Rogamos puntualidad y presencia a la hora de ser llamados. Los horarios de comienzo y fin del evento serán estrictamente respetados por razones de organización. La prestigiosa sala tiene sus reglas de uso las cuales implican entregarla en tiempos preestablecidos. Seguramente por esta razón, no se podrá llamar dos veces a la persona que no esté presente a la hora de ser distinguida, actividad  que comienza desde el inicio del acto.  
                                                       
Les esperamos y saludamos cordialmente.
                                                                 Julio Kronberg - Susana Andrade

Blanco y negro

por JORGE ABBONDANZA para EL PAIS

Obama no es negro. Es en cambio un mulato, palabra algo siniestra que deriva de mulo (en el sentido de híbrido entre caballo y asno) y que fue acuñada para que el racismo europeo manejara sus categorías de acuerdo a la declinación en el color de la piel. La palabra también existe en inglés aunque se la emplea rara vez, con lo cual un varón que tenga sangre blanca y negra es un mulatto y una mujer es una mulattress. Heredero de esas denominaciones zoológicas, Obama encarna (desde su victoria electoral del martes 4) la revancha de su raza, que culmina por fin un duro camino hacia las más altas dignidades políticas. Ese repecho no ha sido tarea sencilla en un país como Estados Unidos, donde la gente de color sólo accedió al ejercicio pleno de la ciudadanía hace 44 años, con las leyes de Derechos Civiles de Lyndon Johnson, conquista lograda un siglo después de la abolición de la esclavitud, que en 1863 sólo resultó bonita sobre el papel donde se imprimió. La historia de las humillaciones y penurias de la raza negra norteamericana ha sido toda una epopeya que abarca desde la segregación en escuelas, autobuses, barrios, edificios, almacenes y gabinetes higiénicos, hasta los operativos criminales del Ku Klux Klan, esa secta formada por caballeros sureños que Lo que el viento se llevó no se atrevía a llamar por su nombre y que durante décadas practicó asaltos, linchamientos y asesinatos contra los negros, gozando casi siempre de una amplia impunidad jurídica y policial. En la narrativa, la prensa y el cine han abundado los testimonios sobre esas campañas de terror organizado que alcanzaron su apogeo hacia 1920 pero han persistido hasta hoy. Ahora los nietos de aquellos caballeros tendrán un presidente mulato, ajuste de cuentas con el cual hasta hace poco tiempo ni siquiera soñaban. Será la horma que merecía su arrogante zapato caucásico. Es probable que ni Barack Obama sea consciente del camino que abre su llegada a la Presidencia, acelerando el paso de la tolerancia hacia la definitiva igualdad. Ese paso estuvo afianzado por unos cuantos héroes de la raza que han quedado atrás, desde Toussaint l`Ouverture, que en 1801 logró en Haití la primera independencia latinoamericana de las metrópolis europeas, hasta otros combatientes de primera línea como el congoleño Patrice Lumumba, el ghanés Kwame Nkruma, el norteamericano Martin Luther King o el prócer sudafricano Nelson Mandela. Paso a paso, a través de adversidades y genocidios, los negros han sabido llegar hasta el Premio Nobel de Literatura, el Secretariado General de Naciones Unidas, la cancillería norteamericana, el estrellato en Hollywood y ahora la Casa Blanca, ese nombre que designa a la neoclásica residencia presidencial de Washington DC, que por primera vez asume una resonancia irónica.
 Una casa blanca para inquilino negro es todo un resumen del triunfo de la comunidad que Obama ha llevado al vértice del poder, luego de ocho años de gestión de un mandatario sureño como Bush. Hasta Scarlett O`Hara podría quedar pasmada ante estos vuelcos de la historia, aunque Morgan Freeman ya no. 

Rosa Egipcíaca: Uma Santa Africana no Brasil(1)


Rosa Maria Egipcíaca da Vera Cruz é certamente a mulher negra africana do século XVIII, tanto em África como na diáspora afro-americana e no Brasil, sobre quem se dispõe mais detalhes documentais sobre sua vida, sonhos, escritos e paixão. É a primeira afro-brasileira a ter escrito um livro, do qual restaram algumas páginas manuscritas. Dos seus 46 anos de fantástica existência, viveu 20 anos no Rio de Janeiro, primeiro de 1725 a 1733, quando foi vendida para as Minas Gerais, lá permanecendo por 18 anos seguidos, retornando à cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro em 1751 e aqui vivendo até 1763, quando é enviada presa para os Cárceres do Santo Ofício da Inquisição de Lisboa.
Foi considerada na época como "a maior santa do céu", a quem brancos, mulatos e negros, inclusive toda a família de seu ex-senhor e respeitáveis sacerdotes, adoravam de joelhos, beijando-lhe os pés, venerando suas relíquias, intitulando-a "a flor do Rio de Janeiro". Fundou o Recolhimento de Nossa Senhora do Parto, ocupado predominantemente por negras e mestiças, cuja capela, reformada, permanece até hoje no Centro desta cidade na rua da Assembléia. Melhor que ninguém, Rosa tipifica a riqueza e força do sincretismo religioso afro-católico-brasileiro. Todos os detalhes de sua vida encontram-se em três processos conservados na Torre do Tombo em Lisboa, divulgados em meu livro Rosa Egipcíaca: Uma Santa Africana no Brasil (Editora Bertrand, RJ, 1993, 750 páginas).
Rosa era uma negrinha nascida na Costa de Mina, de nação Courana, também conhecida como Coura, que desembarcou de um navio negreiro no Rio de Janeiro, em 1725: tinha 6 anos de idade. Quando aqui chegou, o comércio de escravos fazia-se nas imediações da Rua Direita, em pleno centro comercial do Rio de Janeiro, e somente no governo do Marquês de Lavradio, por volta de 1760, que se destinará o Valongo como mercado negreiro. Foi comprada por um tal senhor José de Souza Azevedo, que a mandou batizar na Igreja da Candelária, que no "tempo do Onça" não passava de uma pequenina igreja, sede da Freguesia da Várzea, humílima em comparação à grandiosidade do templo neo-clássico que hoje conhecemos. Era certamente a igreja carioca onde mais escravos eram batizados: entre 1725-1726, dos 444 batismos aí realizados, 62% eram escravos, permitindo-nos levantar a hipótese de que a familiaridade com a patrona desta igreja talvez explique a gênese da associação entre Nossa Senhora das Candeias com o culto à Rainha do Mar, Iemanjá.
Não é difícil reconstruir sua vida de menininha escrava urbana, residente na freguesia da Candelária: realizando pequenos serviços domésticos compatíveis com sua pequenez, cuidando de crianças, carregando objetos, dando recados, ajudando na limpeza da casa ou na cozinha. Provavelmente nesta primeira fase de adaptação à sua recente condição de escrava, com novo nome, aprendendo língua estranha e costumes completamente diferentes dos de sua tribo natal, é que esta pretinha de 6 anos foi informada, por outros negros seus conterrâneos, de que era nativa da nação courana, procedente do Porto de Judá, identificação que guardará para toda a vida. Talvez possuísse algumas marcas tribais ou cicatrizes decorativas em seu rosto e barriga. Teria sofrido mutilação clitoriana, prática comum em muitas tribos da Costa da Mina?
Dizem os manuscritos da Torre do Tombo que o senhor de Rosa, "após desonestá-la e tratar torpemente com ela", vendeu-a para as Minas Gerais: tinha 14 anos. Triste destino de tantas adolescentes da cor de ébano, presas fáceis da volúpia dos machos de todas as cores: segundo o viajante alemão Carl Schlichthort, em seu livro O Rio de Janeiro como é, "doze anos é a idade em flor das africanas. Nelas há de quando em quando um encanto tão grande, que a gente esquece a cor... Dos olhos irradia um fogo tão peculiar e o seio arfa em tão ansioso desejo, que é difícil resistir a tais seduções..."
Após oito anos no Rio de Janeiro, novamente Rosa sofre outra separação de seus conhecidos, a ruptura de uma rotina de sua vida de adolescente, a angústia e temor face ao desconhecido. Por mais fome que tenha passado desde que atingira a idade da razão, por mais pancadas, beliscões, palmatoadas ou mesmo chicotadas que tenha recebido na casa de seus senhor, certamente esta menina-moça africana criara laços afetivos e de amizade com outros escravos, talvez com gente de sua mesma nação, de modo que provavelmente deve ter derramado muitas lágrimas ao se despedir do pequeno grupo de seus entes queridos.
A viagem para as Minas - por volta de 500 quilômetros percorridos a pé, foi a segunda grande caminhada forçada na vida desta garota: a primeira, há uns nove anos passados, de sua aldeia tribal até o Porto de Judá, agora esta outra, atravessando densas e úmidas florestas, ferindo seus pés descalços subindo a serra da Mantiqueira em direção às Minas Gerais, uns 12 dias de viagem.
Na Capitania das Minas, Rosa foi comprada pela mãe de um de nossos mais destacados literatos do período colonial, Frei José de Santa Rita Durão, indo morar na freguesia do Inficcionado, a duas léguas de Mariana. Como tantas escravas de norte a sul da Colônia, a negra courana vai viver de vender seu corpo e favores sexuais aos concupiscentes mineiros, que com ouro em pó compravam mercadorias e prazer das poucas mulheres que percorriam as faisqueiras. Era a única escrava negra num plantel de 77 escravos machos! Segundo mais tarde confessou, perante o Comissário do Santo Ofício do Rio de Janeiro, passou 15 anos "a se desonestar vivendo como meretriz." Este comércio venéreo deu à escrava africana um traquejo social e um verniz civilizatório que muito vai lhe auxiliar em seu futuro grandioso. Não é difícil imaginar todos os constrangimentos, violências e doenças que esta jovem africana deve ter sofrido, na condição de prostituta escrava-negra, numa região abarrotada de aventureiros e carente de filhas de Eva.
Ao completar 30 anos é atacada de estranha enfermidade: ficava com o rosto inchado, sentia tumor no estômago, caindo ao chão desacordada. Rosa decide então mudar de vida: por volta de 1748, vende seus parcos bens - jóias e roupas amealhados com a venda de seu corpo, distribui tudo aos pobres. Adota vida beata, freqüentando os ofícios divinos e liturgias, que abundantes eram celebrados nas barrocas igreja mineiras, muitas delas acabadas de construir nessa mesma década. Foi numa dessas andanças pias que encontrou na Capela de São Bento, no mesmo arraial do Inficcionado, o Padre Francisco Gonçalves Lopes realizando fantásticos exorcismos em alguns energúmenos. Este sacerdote português era então vigário da freguesia de São Caetano, no mesmo distrito, e tão eficaz e useiro era em tirar o demônio do corpo de brancos e pretos, que tinha por apelido Xota-Diabos.
Impressionada com a cerimônia do exorcismo, Rosa revelou ela própria também estar possuída por sete demônios: diz ter sentido como que um caldeirão de água quente que era despejado sobre seu corpo, caindo incontinenti desacordada ao chão, partindo a cabeça na pedra debaixo do altar de São Benedito. Não deixa de ser emblemática a coincidência de seu primeiro transe religioso ter acontecido exatamente ao pé de um santo negro, ex-escravo franciscano da Sicília. Um segundo exorcismo realizado nessa mesma freguesia confirma ao sacerdote que de fato a escrava do casal Durão era uma possessa especial, pois quando vexada, fazia sermões edificantes, sempre preocupada que todos mantivessem perfeita compostura nos templos, retirando à força para a rua a quantos conversassem ou desrespeitassem o Santíssimo Sacramento. Quando possuída por Satanás, falava grosso, caía desacordada e dizia ter visões celestiais, vendo por diversas vezes Nossa Senhora da Conceição, ouvindo diversos coros de anjos que lhe ensinaram algumas orações, recebendo até a revelação de uma fonte de água milagrosa ao pé de uma montanha, onde devia ser construída uma igreja em honra de Senhora Santana. O culto aos avós de Cristo substitui no imaginário místico de Rosa, a perda e desconhecimento de seus próprios ancestrais, culto tão forte na maior parte das tribos da Costa da África.
Após os exorcismos, Rosa dizia ser arrebatada por um misterioso vento: "quando saía de casa para ir à igreja, logo na rua sentia um vento tão forte que lhe impedia os passos e com grande violência a fazia retroceder para trás e se bater com o corpo em uma cruz, sendo em dias que não havia vento e só por virtude dos preceitos que punha o exorcista é que podia resistir ao dito vento e entrar na igreja." A presença deste misterioso vento realça mais uma vez a força do sincretismo afro-judaico-cristão em seu imaginário, pois na tradição do Velho Testamento, Javé é referido como vento, sopro, ar, hálito; no Novo Testamento o Espírito Santo aparece em forma de vento ("pneuma"), e mais recentemente a aparição de Nossa Senhora de Lourdes à Santa Bernadete ocorre em seguida a "um pé de vento"; na tradição dos Orixás, nossa poderosa Iansã é identificada com ventos e tempestades, fazendo parte do décor de inúmeros episódios míticos afro-brasileiros a presença do vento. Na mesma época em que Rosa sofria esses "acidentes", é denunciada à Inquisição uma africana de nome Maria Canga, "que inventava uma dança de batuque, no meio da qual entrava a sair-lhe da cabeça uma coisa que se chama vento e entrava a adivinhar o que queria."
A fama de visionária de Rosa espalha-se por Mariana, Ouro Preto, São João Del Rei, sempre acompanhada do padre Xota-Diabos e de seus exorcismos. Nesta última cidade, na Igreja do Pilar - o mesmo templo onde Tancredo Neves era irmão da Ordem Terceira - certa vez Rosa Courana interrompe a pregação de um missionário capuchinho, gritando que ela era o próprio satanás ali presente: é presa e enviada para a sede do Bispado, Mariana, sendo flagelada no pelourinho com tal rigor que por pouco não morreu, ficando, contudo, para o resto da vida, com o lado direito do corpo semi-paralisado. Recuperada da tortura, procura o recém-empossado bispo da Diocese, D. Frei Manoel da Cruz, que encarrega uma junta de teólogos para investigar se a incorrigível energúmena era mesmo possessa ou embusteira. Após uma série de provas - inclusive testando a resistência da pobre vexada à chama de uma vela, que por 5 minutos suportou acesa debaixo da língua! - concluem os teólogos que tudo não passava de fingimento, passando então o povo a chamá-la de feiticeira.
Para evitar novos problemas, Rosa foge para o Rio de Janeiro, sempre auxiliada e protegida pelo seu inseparável padre Xota-Diabos, agora seu proprietário legal, o qual nesta época passava dos 50 anos. O retorno à cidade de sua segunda infância se dá em condições bem melhores de quando subiu a serra num magote de cativos: em vez de simplesmente Rosa, após uma visão celestial, agora apresentava-se como Rosa Maria Egipcíaca da Vera Cruz.; montada num cavalo, dormindo em estalagens, intercalava visões celestiais com tentações carnais tendo o Xota-Diabos como o eleito de seu coração, relação íntima insinuada e comentada pelos seus próprios contemporâneas.
Chegam na heróica e leal cidade do Rio de Janeiro em abril de 1751. Depois de Salvador, capital da América Portuguesa, que na época contava com 7 mil fogos e pouco mais de 40 mil habitantes, o Rio de Janeiro era nossa segunda cidade em importância demográfica e econômica: entre 1750-1760, possuía de 24 a 30 mil moradores, com 7723 fogos. Cidade barroca com vivíssimo décor religioso: 23 igrejas distribuídas em quatro paróquias: São José, Catedral (São Sebastião no morro do Castelo), Santa Rita e Candelária; 70 oratórios, 26 confrarias, 380 frades, mais de uma centena de padres seculares. Nesta mesma década, é iniciada ou concluída a construção de diversas igrejas neste bispado, sendo eleita Senhora Santana a padroeira principal do Rio de Janeiro.
Rosa instala-se inicialmente numas casas em frente à Igreja de Santa Rita, tendo sua primeira visão na Igreja de Nossa Senhora da Lapa, aparecendo-lhe o Menino Jesus vestido de azul celeste, tendo na cabeça uma tiara pontifícia, "caindo no chão sem sentidos e como morta". Por sugestão de uma beata das muitas que freqüentavam assiduamente os templos cariocas, Rosa revela sua vida atribulada e dons espirituais ao Provincial dos Franciscanos, Frei Agostinho de São José, que passa a ser seu diretor espiritual, responsável pela edificação do segundo andar do convento de Santo Antônio, ainda hoje dominando do alto do morro do Largo da Carioca. A vida mística de Rosa impressiona vivamente os franciscanos, que a vêem cumprir todos os exercícios pios muito em voga nos séculos passados: jejuns prolongados, autoflagelação, uso de silício, comunhão freqüente. Dão à preta Rosa o maravilhoso título de " Flor do Rio de Janeiro".
Nesta época, convém esclarecer, malgrado a discriminação legal e institucional contra a raça negra, sujeita à escravidão e aos mais cruéis tormentos, procurava a Igreja Católica oferecer modelos de santidade para este enorme contingente demográfico representado pelos africanos e afro-descendentes que pululavam por toda a colônia. É nestes meados do século XVIII que o papado estimula, por todas as partes do mundo escravista, o culto a São Benedito, Santo Elesbão, Santa Efigênia, Santo Antônio de Noto (ou Catigeró), todos negros como Rosa, todos exemplos de humildade, resignação e santidade. O monarca da época, D. João V, ele próprio, com lágrimas nos olhos, escrevia ao clero americano insistindo que não deixassem os cativos morrer sem o batismo, quando transportados nos tumbeiros da África para o Brasil, e cuidassem da rápida evangelização destes pobres descendentes do Prestes João.
A beata Rosa Maria Egipcíaca da Vera Cruz, portanto, ex-prostituta como sua patrona Santa Maria Egipcíaca, vinha a calhar neste "aggiornamento" da Igreja e poderia ser - certamente assim o desejavam os franciscanos - uma futura santa. E ter uma santa em casa, ensinava a tradição, redundava em romarias, polpudas doações para o convento, a garantia, portanto, de manutenção das velas dos altares e demais gastos dos atos litúrgicos e do próprio convento.
Tão logo chega ao Rio, Nossa Senhora obriga a negra courana, através de uma visão celestial, a aprender a ler e escrever, tarefa que cumprirá razoavelmente, sendo até agora a primeira africana de que se tem notícia em nossa história a ter aprendido os segredos do abecedário. Também por inspiração sobrenatural, Rosa Egipcíaca decide fundar um Recolhimento para "mulheres do mundo" que pretendiam como ela trocar o amor dos homens pelo do Divino esposo. Ajudada por polpuda doação de um sacerdote de Minas Gerais, seu devoto e admirador das virtudes da ex-escrava, contando com o beneplácito do bispo do Rio de Janeiro, D. Antônio do Desterro, em 1754 é lançada a primeira pedra do Recolhimento de Nossa Senhora do Parto, aproveitando a existência de pequena capela localizada não muito distante do Largo da Carioca, onde hoje se situa a Rua da Assembléia. Construído o recolhimento, chegou a abrigar uma vintena de moças-donzelas e ex-mulheres da vida, sendo metade delas negras ou mulatas. Viviam de doações dos fiéis e dos parentes das recolhidas; seguiam a rotina comum a tais instituições religiosas-leigas (sem votos perpétuos), incluindo a recitação coletiva do Ofício de Nossa Senhora e outras liturgias e sacramentais, além do trabalho de manutenção da casa pia e demais exercícios comunitários. Entre as recolhidas três filhas de um ex-senhor de Rosa, compadre do Xota-Diabos.
Madre Rosa - como então era chamada por dezenas de seus devotos - sofistica suas visões, passando a escrevê-las ou ditando para que suas escribas anotassem tudo o que via e ouvia, seja revelado pelos santos, por Maria Santíssima ou pela própria boca de Deus. Sempre aplaudida e venerada pelo Padre Francisco Gonçalves Lopes, pelo seu frade confessor e por um capuchinho italiano, a negra courana escreve mais de 250 folhas do livro "Sagrada Teologia do Amor de Deus Luz Brilhante das Almas Peregrinas", onde diz que o Menino Jesus vinha todo dia mamar em seu peito e, agradecido, penteava sua carapinha; que Nosso Senhor trocara seu coração com o dela, e que no seu peito trazia Jesus Sacramentado; que morrera e tinha ressuscitado ; que Nossa Senhora era Mãe de Misericórdia e que ela, Rosa, recebera de Deus o título e encargo de Mãe de Justiça, dependendo de seu arbítrio o futuro de todas as almas, se iam para o céu ou para o inferno ; que ela própria era a esposa da Santíssima Trindade, a nova Redentora do mundo.
Em seu misticismo, como católica fervorosa assistida por diversos diretores espirituais, Rosa incorporou em sua espiritualidade o que de mais moderno existia em termos de devoção na época, tal qual era praticado por outras santas em Roma, Lisboa e demais metrópoles da Cristandade: a ex-escrava, agora a Madre do Recolhimento do Parto foi a principal vidente e divulgadora em terras brasileiras do culto aos Sagrados Corações - incluindo não apenas a devoção oficial a Jesus e Maria, mas de toda a família do Nazareno, a saber, os corações de São José, São Joaquim e Santana. Foi graças às visões de Rosa, e para representá-las visualmente, que os franciscanos construíram no Convento do Largo da Carioca a maravilhosa Capela dos Sagrados Corações, até hoje perfeitamente conservada e aberta à visitação pública, muito embora sem se dar os créditos à sua verdadeira inspiradora: Santa Rosa Maria Egipcíaca da Vera Cruz!
Em seu recolhimento, contudo, além do culto idolátrico à sua pessoa, algumas liturgias pecavam pela heterodoxia, notando-se elementos de forte inspiração africana. Não esquecer que mais da metade das recolhidas, entre estas, as principais assessoras de Rosa, eram afro-descendentes. Além do hábito de pitar cachimbo, Rosa comandava certas cerimônias onde é nítido o sincretismo afro-católico: "Numa ocasião, conta a recolhida Irmã Ana do Coração de Jesus, negra crioula, natural de Ouro Preto, que na noite da festa Visitação de Nossa Senhora a Santa Isabel, que era o dia das sortes da congregação, estando a comunidade rezando a novena no coro, saiu Rosa de joelhos, e cantando o Ave Maris Stella (Ave Estrela do Mar), começou a dançar em frente do altar, fazendo muitas visagens, até cair desmaiada no chão. Levantou-se então e de um balainho pequenino tirou quatro papelinhos trazidos à maneira de sorte e deu cada um a quatro irmãs, (três negras e uma branca) onde estavam escritos São Mateus, São Lucas, São Marcos e São João, dizendo que elas eram evangelistas..." Em que medida tal imposição de novos nomes poderia evocar rituais congêneres praticados nos cultos afro-brasileiros quando as yaôs saem da camarinha e têm seus nomes revelados, passando a partir de então a ser identificadas e incorporar diferentes orixás?
A descrição desta outra cerimônia faz-nos lembrar de uma seção de gira num terreiro de umbanda ou candomblé: "Na capela do Parto, Rosa tirava às vezes algumas imagens do altar, dizendo que [ela] era Deus, e metia as imagens na mão de algumas irmãs e ia dançando até ao pé delas, e lá as deixava e ia buscar outra, e entrava a apertar a dança, arrodeando-as, e caía no colo de alguma irmã e ficava como estava fora de si, e depois de muito tempo, se tornava a si e começava a perguntar aquilo o que era, quem a tinha trazido para ali, e isto era quase sempre, e se não críamos, levantando-se da sua passividade, roncando, se agarrava pela goela e entrava a bater pelo chão, dando murros..."
Noutra oportunidade, a negra courana parece estar possuída de algum erê, tanto que certa manhã, "entrou Rosa no coro com uma vara de marmelo dando na cabeça das recolhidas, dizendo: ABC com o que, mataste o meu Iapê, com uma vara de dimpê... Explicando que Iapê era Nosso Senhor e a vara de dimpê era a contradição que as recolhidas tinham." Infelizmente, nenhum lingüista conseguiu até agora dar-nos a pista destas expressões idiomáticas utilizadas pela "Abelha Mestra" do Recolhimento do Parto. O ritual lembra um erê quando usa varinhas para de brincadeira, açoitar os freqüentadores dos terreiros de candomblé.
Outro aspecto da religiosidade de Rosa Egipcíaca revelador do sincretismo afro-católico, remete-nos ao próprio espírito que passou a acompanhá-la desde que se converteu: uma entidade que por mais de quinze anos vexou-a, primeiro identificado como Lúcifer, mas depois referido como Afecto. Curioso que em vez de comportar-se como o Príncipe do Mal, este espírito induzia-a para o bem, para zelar e defender a honra de Deus. Tal espírito faz-nos pensar em Avrektu - cuja semelhança fonética com Afecto é evidente, um anjo ou mensageiro de luz da cultura Jeje da Nigéria, vizinha próxima da região natal de Rosa Coura. O Avrektu é um misto de mensageiro do além e espírito protetor, através do qual Rosa profetizava o futuro.
No recolhimento do Parto, as freirinhas entravam em transe quase diariamente, as vezes, diversas vezes por dia. Quando o Espírito baixava na comunidade, "sempre ficava ao menos uma ou duas espiritadas sem estar atacada", exatamente como ocorre nas casas de culto afro-brasileiros, onde institucionalizou-se tal costume através da figura da ekédi, mulher auxiliar das filhas de santo em transe, amparando-as para que não caiam, enxugando-lhes o suor, etc. A ekédi não entra em transe, e nos xangôs de Recife é chamada de iabá ou ilais.
A fantasiosa megalomania religiosa de Madre Rosa tinha no padre Xota-Diabos seu estimulador, o qual mandara pintar um quadro sobre cobre, onde a negra courana posava como se fosse uma bem-aventurada, vestida de hábito franciscano, com as cinco chagas, cordão e rosário do lado, pisando alguns diabos e salvando uma alma do purgatório, enquanto um esbelto São Miguel a coroava com esplêndido buquê de flores. Numa mão segurava o Menino Jesus e na outra trazia uma pena, símbolo de sua erudição teológica, posto que o Padre Xota-Diabos, agora Capelão do Recolhimento, proclamara mais de uma vez que "Rosa deixava Santa Teresa Dávila a léguas de distância" e que aquela Doutora da Igreja não passava de uma "menina de recados" da mestra africana. Ao rezarem a Ladainha de Nossa Senhora, na estrofe Mater Misericordiae, suas recolhidas se inclinavam reverentes para a Madre Superiora, que era reverentemente incensada pelo sacerdote, o qual trazia no pescoço preciosa relíquia: um dente de Santa Rosa Egipcíaca!
Muitos fiéis freqüentavam o Recolhimento do Parto, alguns para ouvir os conselhos da Mestra, outros para buscar suas relíquias, notadamente uma espécie de biscoito feito com a saliva de Rosa, amassada com farinha, que era guardada para esse fim, e a que seus devotos reputavam o poder de curar todas as enfermidades. Profetizando que o Rio de Janeiro ia ser inundado e destruído do mesmo modo como acontecera em 1755 com o terrível terremoto de Lisboa, Madre Rosa convence dezenas de famílias a refugiarem-se no Recolhimento, garantindo que seriam os únicos sobreviventes ao dilúvio e que essa nova Arca de Noé iria cruzar o mar oceano para encontrar-se com o Rei D. Sebastião - desaparecido há dois séculos nas areias do Marrocos , o qual tinha escolhido a negra Rosa para sua esposa, e que deste matrimônio e de seu ventre nasceria o novo Redentor da humanidade. Rosa foi dentre todos os sebastianistas, a que mais ousou em suas profecias!
Não foram tanto os vaticínios não cumpridos nem seus êxtases e revelações de características epileptóides a causa da derrota de Madre Egipcíaca: seu erro foi indispor-se com o clero carioca por ter ralhado com alguns sacerdotes que davam mau exemplo conversando na igreja durante as cerimônias sacras, sendo denunciada ao Bispo sobretudo após ter retirado à força da igreja de Santo Antônio uma senhora da sociedade que se comportava com menos compostura. Mandada prender no aljube da cidade, dezenas de testemunhas passam a denunciar as excentricidades desta preta beata: aí então se revelam todos os seus desatinos religiosos, como dizer-se mãe de Deus, redentora do universo, superior a Santa Teresa, objeto de verdadeira e herética idolatria em seu recolhimento, além de capitanear rituais sincréticos igualmente suspeitos.
Após quase um ano presos no aljube do Rio de Janeiro, Rosa e o padre Xota-Diabos são enviados para Lisboa, sendo ouvidos pelo Santo Ofício, em 1763. O padre em poucas sessões do inquérito declara ter sido enganado pela falsidade da negra, alegando ser pouco letrado em teologia e ter-se fiado na boa opinião que o Provincial dos Franciscanos dela fazia. Pede perdão de sua boa-fé e excessiva credulidade: tem como pena o degredo de cinco anos para o extremo sul do Algarve, além de perder o direito de confessar e exorcizar. Se verdadeira ou falsa sua arrenegação da fé em sua ex-escrava, filha espiritual e possível amante, nunca poderemos saber.
Rosa, por sua vez, dá um heróico espetáculo de autenticidade, insistindo em muitas sessões que nunca mentiu nem inventou coisa alguma: confirma que todas suas visões, revelações e êxtases foram reais. De fato, ela acreditava ser uma predestinada e que Deus em sua misericórdia a tinha escolhido para revelar ao mundo seus desígnios. Enquanto os inquisidores insistem para que diga a verdade, revelando tudo não ter passado de fingimento para chamar atenção sobre sua pobre figura, Rosa diz ao contrário: "Tudo vi e ouvi!" Sua coragem e autenticidade a qualificam como verdadeira heroína!
Quatro de junho de 1765 é a última sessão de perguntas à vidente afro-brasileira: neste dia ela narra uma de suas visões. Que estando para comungar ouviu uma voz sobrenatural que lhe dizia: "Tu serás a abelha-mestra recolhida no cortiço do amor. Fabricareis o doce favo de mel para pores na mesa dos celestiais banqueteados, para o sustento e alimento dos seus amigos convidados."
A partir daí, inexplicavelmente, interrompe-se o processo de Rosa. Dos mais de mil processos de feiticeiras, sodomitas, bígamos, falsas santas e blasfemos que pesquisei, não encontrei outro que ficasse inconcluso, pois sempre os inquisidores eram muito minuciosos em anotar o desfecho do julgamento: a pena a que foi condenado o réu, se morreu de doença no cárcere, se houve suicídio, se foi mandado para a fogueira ou para o degredo, etc. Inexplicavelmente, o processo de Rosa tem como última página este registro dos inquisidores: "Por ser avançada a hora lhe não foram feitas mais perguntas, e sendo lidas estas anotações e por ela ouvidas e entendidas, disse estar escrita na verdade, e assinou com o Senhor Inquisidor, depois do que foi mandada para o seu cárcere."
Comparando suas culpas com a de outras beatas e embusteiras processadas pelo Santo Ofício da Inquisição, avaliamos que deveria ser condenada à pena dos açoites e degredada por cinco anos para o Algarve, aliás, como foi o caso de outra afro-brasileira, a angolana Luiza Pinta, esta sim, verdadeira "mãe-de-santo" de um calundu, muito mais ligada às raízes africanas do que Madre Rosa.
Duas hipóteses quanto ao inédito fim desta história: ou a preta Rosa, como era depreciativamente referida no processo inquisitorial, ex-Madre Rosa Maria Egipcíaca da Vera Cruz, morreu incógnita no cárcere inquisitorial, de doença natural ou velhice, esquecendo-se pela sua insignificância, o notário ou o médico do Santo Ofício de registrar no processo o seu falecimento, ou, então, quem sabe, o próprio Menino Jesus encarregou-se de libertar e levar sua velha mãe-de-leite direto para o céu, agradecido e saudoso do aconchegante colo de sua preta tão querida!
Tal é, resumidissimamente, a vida maravilhosa desta negrinha de nação Courana desembarcada na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro no ano do senhor de 1725. Seu processo permaneceu completamente inédito até 1983, quando tivemos a ventura de descobri-lo e divulgá-lo integralmente em livro em 1993.
Através da vida dessa ex-escrava africana, alguns aspectos cruciais da sociedade colonial brasileira merecem maior reflexão, quiçá revisão. Por exemplo, o fato de que num contexto onde negro equivalia à escravidão e indignidade, e aos africanos desprezava-se como raça inferior, bruta, "sangue impuro", não deixa de ser notável a veneração e verdadeira idolatria como inúmeros brancos - incluindo ex-senhores e membros do clero - cultuaram com tamanha veneração à uma negra africana, ex-prostituta. A inteligência, determinação e esperteza desta negra courana fazem-na merecedora, muito mais do que a Escrava Anastácia, de ostentar o título de santa e Flor do Rio de Janeiro! FINIS

NOTAS
1.Este ensaio é um resumo do livro ROSA EGIPCÍACA: UMA SANTA AFRICANA NO BRASIL, Rio de Janeiro, Editora Bertrand do Brasil, 1993, 750 p.