por Taiana Laiz
“A mídia só destaca o trabalho da cultura afro daqueles que já se destacaram”, afirma Carlos Alberto Alves de Almeida, mais conhecido como Bimbau, expondo sua insatisfação com relação à abordagem que a mídia dá às entidades afros de Salvador. Em 1982, sendo chamado para integrar a diretoria do Afoxé Badauê, a sua vida começou a mudar e hoje ele é adorado nas comunidades afros de Salvador. Baiano legítimo, é coordenador-geral da produção artística afro do Subúrbio, e já foi destaque em algumas das principais folhas culturais da cidade, embora ainda seja um quase desconhecido entre algumas das entidades existentes na Bahia. Nesta entrevista, ele reafirma sua verdadeira profissão, e expõe seu desagrado com relação à ajuda do Estado.
Vamos começar com umas perguntas protocolares. Onde o senhor nasceu e como teve contato com a cultura afro?
Bimbau - Eu nasci em Acajutiba, interior da Bahia, e vim para Salvador com 7 anos de idade, sendo que já cheguei aqui trabalhando porque minha família era muito carente. Entreguei jornal à noite, com 17 anos fui pro Exército, logo após trabalhei na redação do impresso do jornal Tribuna da Bahia, depois passei um período na Forgia Nordeste Metalúrgica no Centro Industrial de Aratu. Me profissionalizando em metalúrgico, trabalhei por quatro anos no Aço do Brasil, e fui parar na Conforgia em São Paulo. Voltando a Salvador fiz o curso de operação de andaime industrial e logo fui chamado para trabalhar na Copene. Em 82, fui surpreendido pelo chamado para compor a diretoria do Afoxé Badauê, depois desse primeiro contato com a cultura afro resolvi vir morar no Subúrbio, e comecei a desenvolver dança e capoeira para as crianças, foi daí que pude montar meu primeiro afoxé que se chamou Afoxé Uganda. Mais tarde resolvi mudar de modalidade e o meu projeto ficou conhecido como Arca de Olorum, e foi assim que fui me envolvendo com a cultura e fazendo cultura até hoje.
Qual a análise que o senhor faz acerca do desempenho do segmento e valorização da cultura afro na Bahia?
A análise que eu faço é positiva, porque em si o meu trabalho dentro e fora de Salvador é reconhecido. O valor da cultura é uma coisa indiscutível, mudou muito e é por isso que está sendo bem aceita digo não só pelo negro mais também em seu geral, tanto pelas pessoas que nos visitam como por aquelas que já atuam dentro do segmento afro.O senhor tem um Projeto Social chamado Arca de Olorum voltado para crianças, jovens e adultos carentes da comunidade. Como surgiu este projeto?
Este projeto surgiu em cima da carência não só cultural como social. Nós no dia-a-dia vamos vendo as necessidades que as pessoas têm e conseguimos trabalhar em cima disso. Agora, estamos com um projeto chamado moda afro, este projeto foi inspirado em cima da carência da mulher de casa, e baseado no tempo que a mulher tem como forma de ser preenchido.
O senhor desenvolve para estes jovens várias atividades que estimulam o aprendizado da cultura afro. Quais os incentivos que o Estado tem dado para ajudar neste aprendizado?
Eu não gosto nem de comentar isso porque acho que o Estado deveria estar inserido o ano todo, porém ele entra com uma ajudazinha apenas no carnaval, sendo que a ajuda do carnaval deste ano ainda nem chegou ao meu projeto. Se você for depender da ajuda que o Estado dá, você não faz nada pra ajudar na comunidade.
E como eles vêem a cultura afro representada pelo seu projeto?
No começo fui até tachado como maluco pela comunidade, porque eu encarava a cultura afro como algo forte dentro de mim, então pra você chegar dentro de um povo que enxerga você de forma diferente é um pouco difícil. Porém eu tive resistência não me deixei levar pelo que falavam e continuei resistindo e fiz a coisa mudar. Hoje meu trabalho é bem aceito e muito mais valorizado.
Você já fez ou faz parte de algum movimento afro?
Movimento afro a gente faz no dia-a-dia a partir do momento que a gente já está inserido nela. O próprio Projeto Arca de Olorum é um movimento afro, então em si eu faço parte de vários movimentos afros aqui na cidade.
O senhor acha que a cultura afro está sendo bem representada aqui na Bahia?
Sim, primeiro porque nós temos uma entidade afro que se chama Ile Aiyê, é uma entidade que já correu o mundo. Segundo porque também temos o Axé Music onde temos nossas amigas Ivete, Margarete Menezes e a própria Daniela, as quais estão levando a nossa cultura para fora do país, e fazendo ser bem aceita.
Além da dança afro quais as demais atividades que seu projeto desenvolve?
Capoeira, percussão, oficina de instrumento, dança de rua, costura, esportes para crianças, e agora moda afro com penteados afros.
O senhor já tem em vista outras idéias para o seu projeto social?
Sim, minha idéia é montar um centro de cultura no bairro do Rio Sena envolvendo todos os segmentos afros e abrindo para a população em geral. Meu ideal agora é empregar esse trabalho na comunidade.
Como o senhor acha que a mídia retrata a cultura afro? Há preconceito?
Muita. A mídia só destaca o trabalho da cultura afro daqueles que já se destacaram, como por exemplo, o Ile Aiyê e um pouco do Olodum, sendo que o Ile Aiyê e o Olodum não podem representar as inúmeras entidades que existem em Salvador. São 48 entidades carnavalescas só de um segmento e mais 32 de outro. O que mais me chateia é que eles falam tanto em socialismo, trabalhos sociais, trabalhos culturais, e nenhum desses dois fazem trabalhos voltados à comunidade, e nem por isso o Ile Aiyê deixou de receber 1 milhão, e o Olodum 600 mil da Lei Ruanê do governo federal.
O que o senhor acha que podemos fazer para mudar essa situação?
Continuar dando segmento aos projetos culturais para que um dia possam nos enxergar de forma individual. E pedir a imprensa um pouco mais de respeito aos segmentos, as questões, e as pessoas.(junho de 2007)
Vamos começar com umas perguntas protocolares. Onde o senhor nasceu e como teve contato com a cultura afro?
Bimbau - Eu nasci em Acajutiba, interior da Bahia, e vim para Salvador com 7 anos de idade, sendo que já cheguei aqui trabalhando porque minha família era muito carente. Entreguei jornal à noite, com 17 anos fui pro Exército, logo após trabalhei na redação do impresso do jornal Tribuna da Bahia, depois passei um período na Forgia Nordeste Metalúrgica no Centro Industrial de Aratu. Me profissionalizando em metalúrgico, trabalhei por quatro anos no Aço do Brasil, e fui parar na Conforgia em São Paulo. Voltando a Salvador fiz o curso de operação de andaime industrial e logo fui chamado para trabalhar na Copene. Em 82, fui surpreendido pelo chamado para compor a diretoria do Afoxé Badauê, depois desse primeiro contato com a cultura afro resolvi vir morar no Subúrbio, e comecei a desenvolver dança e capoeira para as crianças, foi daí que pude montar meu primeiro afoxé que se chamou Afoxé Uganda. Mais tarde resolvi mudar de modalidade e o meu projeto ficou conhecido como Arca de Olorum, e foi assim que fui me envolvendo com a cultura e fazendo cultura até hoje.
Qual a análise que o senhor faz acerca do desempenho do segmento e valorização da cultura afro na Bahia?
A análise que eu faço é positiva, porque em si o meu trabalho dentro e fora de Salvador é reconhecido. O valor da cultura é uma coisa indiscutível, mudou muito e é por isso que está sendo bem aceita digo não só pelo negro mais também em seu geral, tanto pelas pessoas que nos visitam como por aquelas que já atuam dentro do segmento afro.O senhor tem um Projeto Social chamado Arca de Olorum voltado para crianças, jovens e adultos carentes da comunidade. Como surgiu este projeto?
Este projeto surgiu em cima da carência não só cultural como social. Nós no dia-a-dia vamos vendo as necessidades que as pessoas têm e conseguimos trabalhar em cima disso. Agora, estamos com um projeto chamado moda afro, este projeto foi inspirado em cima da carência da mulher de casa, e baseado no tempo que a mulher tem como forma de ser preenchido.
O senhor desenvolve para estes jovens várias atividades que estimulam o aprendizado da cultura afro. Quais os incentivos que o Estado tem dado para ajudar neste aprendizado?
Eu não gosto nem de comentar isso porque acho que o Estado deveria estar inserido o ano todo, porém ele entra com uma ajudazinha apenas no carnaval, sendo que a ajuda do carnaval deste ano ainda nem chegou ao meu projeto. Se você for depender da ajuda que o Estado dá, você não faz nada pra ajudar na comunidade.
E como eles vêem a cultura afro representada pelo seu projeto?
No começo fui até tachado como maluco pela comunidade, porque eu encarava a cultura afro como algo forte dentro de mim, então pra você chegar dentro de um povo que enxerga você de forma diferente é um pouco difícil. Porém eu tive resistência não me deixei levar pelo que falavam e continuei resistindo e fiz a coisa mudar. Hoje meu trabalho é bem aceito e muito mais valorizado.
Você já fez ou faz parte de algum movimento afro?
Movimento afro a gente faz no dia-a-dia a partir do momento que a gente já está inserido nela. O próprio Projeto Arca de Olorum é um movimento afro, então em si eu faço parte de vários movimentos afros aqui na cidade.
O senhor acha que a cultura afro está sendo bem representada aqui na Bahia?
Sim, primeiro porque nós temos uma entidade afro que se chama Ile Aiyê, é uma entidade que já correu o mundo. Segundo porque também temos o Axé Music onde temos nossas amigas Ivete, Margarete Menezes e a própria Daniela, as quais estão levando a nossa cultura para fora do país, e fazendo ser bem aceita.
Além da dança afro quais as demais atividades que seu projeto desenvolve?
Capoeira, percussão, oficina de instrumento, dança de rua, costura, esportes para crianças, e agora moda afro com penteados afros.
O senhor já tem em vista outras idéias para o seu projeto social?
Sim, minha idéia é montar um centro de cultura no bairro do Rio Sena envolvendo todos os segmentos afros e abrindo para a população em geral. Meu ideal agora é empregar esse trabalho na comunidade.
Como o senhor acha que a mídia retrata a cultura afro? Há preconceito?
Muita. A mídia só destaca o trabalho da cultura afro daqueles que já se destacaram, como por exemplo, o Ile Aiyê e um pouco do Olodum, sendo que o Ile Aiyê e o Olodum não podem representar as inúmeras entidades que existem em Salvador. São 48 entidades carnavalescas só de um segmento e mais 32 de outro. O que mais me chateia é que eles falam tanto em socialismo, trabalhos sociais, trabalhos culturais, e nenhum desses dois fazem trabalhos voltados à comunidade, e nem por isso o Ile Aiyê deixou de receber 1 milhão, e o Olodum 600 mil da Lei Ruanê do governo federal.
O que o senhor acha que podemos fazer para mudar essa situação?
Continuar dando segmento aos projetos culturais para que um dia possam nos enxergar de forma individual. E pedir a imprensa um pouco mais de respeito aos segmentos, as questões, e as pessoas.(junho de 2007)
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