De sua casa na Tijuca, o escritor Eduardo Fonseca Júnior costuma fazer incursões a pé à livraria Eldorado, único lugar onde está à venda seu mais recente livro, “Zumbi dos Palmares, a história do Brasil que não foi contada”. Apesar de sua distribuição ter se limitado a essa livraria, a obra de 461 páginas está atraindo o interesse de políticos, intelectuais e músicos brasileiros.
Com prefácios de dois ex-presidentes da Academia Brasileira de Letras — Arnaldo Niskier e Antônio Houaiss — e fonte de pesquisa para Jô Soares, que cita a obra em “O xangô de Baker Street”, o livro de Eduardo Fonseca Júnior -um desconhecido do grande público- conta a história de Zumbi dos Palmares e corrige o que o próprio autor chama de “gravíssimas distorções da história do país”.
— Sabia que os portugueses não expulsaram os holandeses de Pernambuco? Em vez disso, compraram a capitania por oito toneladas de ouro — afirma Fonseca, um manancial de fatos históricos coletados em 15 anos de pesquisas no Brasil, na África e na Europa.
O livro poderá chegar, ainda este ano, a escolas e bibliotecas municipais. A prefeitura do Rio estuda sua adoção para apoio didático. As prefeituras de Duque de Caxias e de Angra dos Reis e o governo estadual de Alagoas também. Com isso, a primeira tiragem, de três mil exemplares, esgotou-se sem jamais ter chegado a qualquer outra livraria.
— Meu sonho é que esse livro chegue aos colégios — confessa o escritor.
O interesse pela história de Zumbi surgiu quando Fonseca tinha 12 anos e leu numa enciclopédia um verbete em que o líder negro era descrito como uma espécie de bandido.
Opinião de Quem Sabe
ARNALDO NISKIER: "O professor Eduardo Fonseca Júnior alcançou plenamente seu objetivo, contando-nos, sem se prender em demasia à rigidez dos documentos oficiais, a história de um homem que lutou até a morte em defesa da liberdade de seus companheiros de sofrimento."
A obra poderá virar um filme
O músico Dori Caymmi e sua esposa, Helena, foram tomados de entusiasmo pelo livro de Eduardo Fonseca Júnior. Mesmo distante do autor, de quem é amigo, o casal que mora em Los Angeles, engajou-se numa campanha para transformar a obra em filme. Se der certo, poderá ser uma superprodução. Os Caymmi pretendem apresentar uma sinopse da história a executivos e artistas de Hollywood.
— O primeiro passo é traduzir a sinopse para o inglês. Aqui em Los Angeles, eu propus a um professor de história essa tarefa. Sei que no Brasil Eduardo também está procurando alguém — contou Helena.
Segundo Eduardo, a busca por um tradutor está encerrada. Quando receberem o texto em inglês, Dori e Helena Caymmi darão início à segunda etapa da campanha.
— Temos contatos, direta e indiretamente, com pessoas influentes no meio artístico, como (o cantor) Quincy Jones e (o cineasta) Spike Lee. Queremos mostrar a história a eles, apresentando-a como a luta de resistência de uma raça, assunto que interessa aos americanos. O filme “Quilombo”, de Cacá Diegues, costuma passar na TV aqui — disse Dori Caymmi.
No livro são revistos fatos históricos como a última batalha de Zumbi dos Palmares. Segundo a história oficial, os seguidores do líder negro se suicidaram atirando-se de um precipício. Zumbi foi capturado, açoitado até a morte e degolado. O confronto teve como cenário a Serra da Barriga. Segundo Fonseca, tudo isso está errado.
— Essa batalha ocorreu a 30 léguas acima do local a que é atribuída. Foi travada na nascente do Rio Mundahun. A cabeça de Zumbi, na verdade, era de um outro negro que estava desfigurado. Zumbi não foi capturado. Além disso, não houve suicídio coletivo, mas sim um massacre. O Quilombo dos Gigantes, último refúgio dos rebeldes, foi sitiado durante cinco anos por 11.000 soldados munidos de armamentos pesados — revela o escritor, de 53 anos.
— Por falta de verbas, não é possível reeditá-las — lamenta o autor. A próxima empreitada de Fonseca será na Baixada: ele encabeça um projeto para a construção de um museu de cultura africana e de um memorial a Zumbi — informa o secretário de Cultura de Caxias, Gutemberg Cardoso.
— Zumbi é o maior herói negro do Brasil e sua história foi pesquisada minuciosamente por Eduardo. Tenho a maior admiração pelo escritor. É o maior pesquisador da cultura africana que conheço e me ajudou também a preparar o carnaval de 2001 — conta Joãosinho.
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